Mundo ficciónIniciar sesiónCayo
Porra, que dia do caralho. Eu tava ali no quiosque, com os manos, rindo de alguma besteira que o Juninho tava contando sobre uma mina que ele pegou na semana passada. O sol já tava quente, mano, e o mar batendo suave na areia. A cerveja gelada descendo pela garganta, o beck queimando no peito, e eu tentando relaxar. Mas aí, aquela loirinha metida aparece de novo na minha frente, como se o destino estivesse tirando uma com a minha cara. Analu. O nome dela ecoava na minha cabeça como uma música chata que não sai. Eu a vi primeiro quando ela se aproximou do balcão, com aquele biquíni verde-água que grudava no corpo dela de um jeito que fazia qualquer cara babar. Cabelo loiro solto, pele branquinha na medida certa, como se ela tivesse saído de um comercial de creme hidratante. Mas o pior era o jeito dela: nariz empinado, como se o mundo inteiro devesse beijar o chão que ela pisa. — Perda de tempo se envolver com caras como vocês. — ela disse pras amigas, alto o suficiente pra eu ouvir. Como se a gente fosse lixo. Como se eu, com minha moto arranhada e minha vida na quebrada, não valesse nem um oi dela. Fiquei puto. Puto pra caralho. Quem ela pensa que é? Uma princesinha rica, criada com colher de prata, achando que pode julgar os outros só porque tem grana pra comprar biquíni de marca e motorista particular. Eu via as amigas dela se jogando pros meus manos — a Mari trocando número com o Léo, a Bia rindo das piadas idiotas do Juninho, e a Lú toda vermelha com o Vitinho. Elas pelo menos tavam na vibe, curtindo sem frescura. Mas a Analu? Não. Ela ficava ali, com cara de nojo, como se a gente fosse uma doença contagiosa. — Mundos diferentes. — ela disse. Vai se foder. Mundos diferentes uma ova. No final, todo mundo sangra igual, chora igual, fode igual. Mas o pior é que, mesmo puto, eu não conseguia parar de olhar. Toda hora meu olho escapava pra ela, deitada na espreguiçadeira, lendo um livro como se fosse a rainha da porra toda. As pernas cruzadas, o cabelo caindo no ombro, aquele sorriso falso que ela dava pras amigas. Eu sentia uma raiva borbulhando no peito, mas ao mesmo tempo... porra, ao mesmo tempo tinha algo mais. Uma queda. Já tava rolando. Como se ela fosse um imã e eu, um idiota de metal sendo puxado. Eu odiava isso. Odiava me sentir atraído por uma mina que me olhava de cima pra baixo. Mas e aí? O corpo dela, o jeito que ela mordia o lábio quando pensava, os olhos azul-acinzentados que pareciam ver através da gente... aquilo me pegava. Me pegava forte. Os manos notaram. O Léo me cutucou com o cotovelo, rindo baixinho. — Cayo, tu tá vidrado na loirinha, né? Tá na cara que ela te deu um nó. Mas relaxa, irmão, ela é daquelas que só pega playboy de carrão. — Cala a boca, porra — resmunguei, dando um gole na cerveja. — Ela é metida pra caralho. Acha que é melhor que todo mundo. Mas olha só, as amigas dela tão curtindo com a gente. Quem sabe ela não desce do pedestal. O Juninho riu alto, mostrando os dentes tortos. — Desce nada, Cayo. Essa aí é do tipo que casa com advogado ou empresário. Mas ei, se você quiser tentar, vai fundo. Aposto que ela nunca pegou um cara como você. Seria uma aventura pra ela. Eu ri forçado, mas por dentro tava fervendo. Aventura? Pra ela, talvez. Pra mim, seria um erro. Eu sei o tipo: mina rica que flerta com o "perigoso" pra se sentir viva, mas no final volta pro mundinho dela e me deixa como uma história engraçada pras amigas. Não, obrigado. Mas mesmo assim, eu olhava. Olhava e imaginava como seria chegar perto, tocar aquela pele macia, ver se por trás da arrogância tinha algo real. A tarde foi rolando. A gente pediu mais cerveja, comeu uns pastéis de camarão que tavam uma delícia, e os manos continuaram na paquera com as amigas dela. Eu ficava de olho, fingindo que tava no papo, mas minha cabeça tava nela. Então, do nada, aparece um cara. Alto, loiro, com cara de modelo de propaganda de banco. Camisa polo branca, bermuda de marca, sorriso perfeito. Ele vai direto pra ela, se j**a na espreguiçadeira do lado e dá um beijo no rosto dela, bem perto da boca. Colado, marcando território como um cachorro mijando no poste. — Analu! Que coincidência te encontrar aqui! — ele disse, voz de quem estudou em colégio caro. Ela riu, surpresa, mas não tanto. Parecia confortável com ele. Humberto, ouvi ela chamar. O nome já me deu nojo. Humberto. Tipo de nome de quem tem conta em banco suíço. Ele começou a falar merda sobre barco, viagem pra Europa, e puxou ela pra dançar uma música que tava tocando no quiosque. Ela foi, rindo, balançando o corpo no ritmo. E eu? Eu fiquei ali, encostado na moto, braços cruzados, sentindo uma raiva que subia pela garganta como bile. Quem era esse otário? O namorado dela? O ficante? O candidato perfeito que a mãe dela aprovaria? Ele a tocava na cintura, sussurrava no ouvido dela, e ela sorria. Sorria de verdade, ou pelo menos parecia. Mas eu via. Via que ela olhava de relance pra mim, como se soubesse que eu tava olhando. E porra, eu tava apaixonado por dentro. Já era. Aquela arrogância dela, misturada com a vulnerabilidade que eu jurava que via nos olhos dela, me pegou. Eu queria ser o cara dançando com ela. Queria ser o que a fazia rir de verdade, não esse playboy sem graça. Mas raiva. Muita raiva. Raiva dela por ser metida, raiva dele por existir, raiva de mim por me importar. Acendi um cigarro, traguei fundo, sentindo a fumaça queimar. Os manos me chamaram pra jogar conversa fora, mas eu tava distraído. Meu celular vibrou no bolso. Peguei, achando que era algum corre do trabalho, mas era a Gabi. 📲 Gabi: Cayo, o Zyon tá com febre. Preciso de grana pra comprar remédio. O pronto-socorro tá lotado, vou levar no particular. Porra. Justo agora. Meu moleque. Meu coração apertou. Zyon com febre? Ele é forte, mas é só uma criança. Respondi rápido: 📲 Eu: Quanto precisa? Tô transferindo. O celular tocou em seguida. Era ela ligando. Atendi, me afastando um pouco do quiosque pra não misturar as coisas. — Cayo, porra, responde logo! — ela gritou do outro lado. — O Zyon tá queimando, e eu tô sem um centavo. Você deixou só pro leite, mas agora é remédio, consulta... tu acha que eu vivo de ar? — Calma, Gabi. Tô em Angra, mas vou transferir agora. Quanto? — Quinhentos. E não demora, hein? Enquanto você tá aí curtindo com os manos, eu tô aqui me virando sozinha com teu filho. Ela sempre faz isso. Me j**a na cara como se eu não me importasse. Como se eu não ralasse todo dia pra botar grana na mesa. Mas ela tem razão em parte. Eu tô aqui, bebendo, enquanto o moleque tá doente. Culpa subiu, misturada com a raiva de tudo. — Tá bom, Gabi. Transfiro agora. Me manda foto do remédio depois. E cuida dele direito. Desliguei, abri o app do banco e transferi os quinhentos. Meu saldo tava baixo, mas pro Zyon, eu dou o que tiver. Mandei uma mensagem pra ela confirmar: 📲 Eu: Transferido. Me atualiza sobre o Zyon. Ela respondeu com um "ok" seco. Típico. Voltei pro quiosque, mas a cabeça tava um caos. Raiva da Gabi por sempre cobrar, raiva da vida por ser assim, raiva da Analu por me fazer sentir isso tudo. Sentei com os manos, peguei outra cerveja, mas o clima tava diferente. O Humberto ainda tava colado na Analu, e eu via os dois rindo. Porra, eu queria quebrar a cara dele. Mas não. Eu não sou assim. Pelo menos não mais. Precisei mijar. Levantei, fui pro banheiro do quiosque — um cubículo fedido, com parede descascando e cheiro de mijo velho. Nada como os banheiros chiques que ela deve usar. Enquanto mijava, pensava no Zyon. No moleque rindo, me chamando de pai. Aquilo me acalmava um pouco. Mas também pensava nela. Na Analu. Por que caralho ela me mexia tanto? Saí do banheiro, limpando as mãos na calça, e parei seco. Lá estava ela. Encostada contra a parede do lado de fora, sozinha. Os braços cruzados, olhando pro mar como se estivesse perdida em pensamentos. O sol poente batendo no rosto dela, fazendo o cabelo brilhar. Ela parecia... vulnerável. Não a princesinha metida, mas uma mina normal, com dúvidas na cabeça. Meu coração acelerou. Cheguei perto, sem pensar duas vezes. — Vai ficar só me provocando, gata? — disse, voz baixa, encostando do lado dela. Ela virou o rosto, os olhos grandes me encarando. Surpresa, mas não tanto. Sem conseguir responder, só me olhando, como se estivesse decidindo algo. A boca entreaberta, os lábios rosados. Porra, eu não aguentei. Me inclinei, segurei o rosto dela com uma mão, e a beijei. Forte, urgente. Os lábios dela macios, quentes, se abrindo pros meus. Senti o gosto da boca dela quando minha língua encostou na dela, tinha gosto de gin e coco, o corpo dela se aproximando do meu. Foi elétrico. Como se o mundo parasse. O melhor beijo da minha vida. Daqueles que te faz esquecer tudo: a raiva, a Gabi, o Zyon doente, o Humberto. Só existia ela, eu, e aquela faísca. Mas aí, um funcionário do quiosque apareceu do nada, carregando uma bandeja. — Ei, vocês dois! Aqui não é lugar pra isso. Vão pra praia ou algo assim. A gente se afastou rápido. Ela corada, limpando a boca com as costas da mão, eu com um sorriso bobo no rosto. Ela me olhou uma última vez, confusa, e saiu correndo de volta pras amigas. Eu fiquei ali, encostado na parede, sentindo o coração bater forte. Porra, aquilo foi real? O melhor beijo da vida. Mas e agora? Ela é metida, rica, de outro mundo. E eu já tô apaixonado. Apaixonado pra caralho. A noite tava caindo, e eu sentia que isso ia dar merda. Mas uma merda que eu queria viver. Voltei pros manos, fingindo que nada aconteceu, mas por dentro... por dentro, tava tudo mudado. Princesinha metida do caralho. Ela me pegou. E agora?






