LARA
Quando a porta se abre pela segunda vez, o ar muda.
Cat entra primeiro. Ela está com o cabelo vermelho preso em um coque alto, como se precisasse prender tudo o que está prestes a desabar. Usa um conjunto de alfaiataria marfim que só poderia ter saído de alguma grife esnobe, mas há olheiras sob o corretivo e um leve tremor nos dedos ao segurar o celular. Ao lado dela, vem David.
Por um segundo, eu preciso olhar duas vezes para reconhecê-lo.
Sem terno, sem aquela rigidez de soldado que ele carrega quando está em modo de alerta. Está de calça jeans escura, camiseta preta básica e um casaco de lã leve. Mas o que mais chama atenção são os óculos.
Os mesmos de antes.
A armação fina. O ar introspectivo. Os ombros mais soltos. O olhar que não vasculha a sala como se todos fossem alvos, ainda que preste atenção em todos os detalhes.
Ele está no modo nerd.
E dessa vez, entendo.
É assim que ele se apresenta ao mundo. É essa a versão de David que a sociedade conhece — o marido discreto da e