LARA
A manhã chega com um peso nos ombros. Estou nessa casa há dois dias e já me entreguei mais do que prometi a mim mesma que faria. Tenho um gosto metálico na boca.
Não é ressaca. É o sabor amargo de uma noite mal dormida, de pensamentos que rodaram em círculos até me deixar zonza. Me virei tantas vezes na cama que quase redesenhei os lençóis.
Levanto sem me espreguiçar. Sem preguiça. Só exausta.
Coloco um robe de seda por cima da camisola preta e prendo o cabelo em um coque frouxo. No espelho, evito encarar meus próprios olhos. Ainda não estou pronta para mim mesma.
Desço as escadas devagar. Cada degrau ecoa como se estivesse avisando que a cena seguinte já começou. E eu, claro, sou uma das protagonistas.
A casa está absurdamente silenciosa. Como se aguardasse o próximo movimento. Como se cada objeto — os quadros nas paredes, os livros na estante, até os talheres sobre a mesa — soubessem que algo mudou desde ontem.
Um beijo que nunca deveria ter acontecido.
A mesa do café da manhã