Capítulo 5

Clarice Martins

“O que ele quer dizer?” A surpresa quase transparece no meu rosto.

Não queria dar o gostinho para ele de mostrar minhas emoções, principalmente quando ele me surpreendia daquela forma.

— Serei um perseguidor? Por quê, por qual motivo? — ele elevou um pouco o tom, apenas o bastante para me amedrontar.

“E você acha que deveria ficar bravo? Me poupe!”

— Diga. Senhorita!

— Senhor… Eu não quis dizer dessa forma… — patético ter que ser cuidadosa com aquele homem.

— Cuidar da conduta de meus subordinados é errado?

— Não, senhor. — Normalmente, eu baixaria a cabeça, mas não desta vez. Este homem não iria brincar comigo desta vez.

Seus olhos castanhos se tornaram mais afiados na minha direção, irritado por não me ter submissa como pretendia. Não podia me culpar de mais nada naquele dia.

— Está tentando causar desordem no nosso time? Ou no departamento inteiro?

— Não. — Respondo rapidamente, surpresa por sua acusação tão infundada.

Estava errada. Ele sempre podia me culpar por algo, até mesmo algo tão descabido quanto aquilo.

— Acho que vou ter que deixar as multas no seu nome hoje, senhorita. Assim você pensa direito quanta dor de cabeça a bebedeira pode causar.

— O quê? — Saiu de repente, descrente com sua capacidade egoísta de ver as coisas.

— Isso não é o julgamento que está plantando nessa sua cabecinha, Martins. Eu não me importo com sua vida pessoal. Mas vou me intrometer quando isso passar dos limites e ameaçar seu trabalho.

— Não ameaçou. E era minha folga.

— E o crime tira folga? — zombou.

Grunhi internamente, mas ele não parou por aí. Para esse ser arrogante, sentia a necessidade de completar suas palavras para me diminuir ou humilhar.

— Se essa é a profissão que você deseja mesmo, deveria zelar por ela. Deveria ser cuidadosa e estar sempre disponível. A vida não tira folga.

Acenei de má-vontade.

— Não irá se repetir. — Tive que responder.

— Seja mais clara, Martins! — Cerrei os dentes e fiz sua vontade.

“Vá se f***r!”

— Não irei exagerar na próxima vez. — O vi apertar os dedos sobre a superfície da mesa.

— Não haverá uma próxima vez! — Foi firme. Ambos nos encaramos. Eu estava fervendo; até mesmo o meu rosto queimava de raiva.

— Vá, e troque-se! Sairemos em vinte minutos. Esteja aqui em dez min…

— Eu estarei em cinco minutos. — Digo, interrompendo.

Me viro para sair da sala.

— Eu não disse que podia sair. — Sua voz soou arrogante.

“Só pode ser castigo.”

— O senhor ditou os minutos que tenho. Não são muitos, então tenho que me apressar, afinal, o crime não vai me esperar trocar de farda. — Não me virei. Podia sentir seu olhar perfurando as minhas costas.

Com isso, ele não pôde me segurar mais. Saí da sala como um trovão, irritada demais. Podia dizer que meus loiros viravam azuis ou vermelhos de tanta raiva.

Bufando, me encontrava vestindo a farda negra enquanto resmungava.

“Idi**a opressor!”

“Ele acredita mesmo que pode me segurar em casa depois do trabalho, só para esperar por sua ligação?” Para combater o crime, eu estava sempre disponível, mesmo se estivesse dentro de um vestido curto, um tubinho ou um traje decotado.

Porém, não faria a vontade de Hudson Renkins. Eu não ia ficar debaixo da sua mão ou dentro dela. Quando ele menos esperasse, eu escaparia por entre seus dedos.

Não pude reclamar muito. Logo a colega mais chata de todo o departamento surgiu. Ela me odiava por alguma coisa que não entendo até o presente momento.

“Já não basta o irritante Hudson Renkins.” Pensei que eles deveriam ser um casal, mas Hudson parecia querer distância de Carla.

Terminei de verificar meu cabelo, colocando o boné com o emblema da polícia civil.

— Não perde tempo, não é? — Ouvi a voz de Carla atrás de mim.

Me virei depois de fechar meu armário. A encontrei com seus curtos cabelos castanhos em frente ao rosto. Há pouco tempo ela tinha feito uma franja também. Antes, em todo o departamento, apenas eu possuía uma franja.

Me encarando com seus olhos azuis opacos, por baixo da franja fina, quase como a minha, Carla fez um bico desdenhoso, com seus lábios vermelhos.

Ela tinha o rosto mais fino que o meu, o nariz mais baixo e sobrancelhas arqueadas. As minhas eram mais gentis. Seu corpo esbelto e sua presença mais agressiva.

— Do que está falando agora? Da missão? — Perguntei, cruzando os braços.

Carla vestia a farda, mas não colocava o boné. Apenas se mantinha me encarando do banco pequeno presente no corredor dos armários.

— Você o impediu de me escalar para essa missão hoje, não foi. — Não era uma pergunta.

— Está me acusando de pedir algo para o delegado? Eu? — Fiquei indignada.

“Só me faltava essa.”

— E quem mais? A favoritinha dele. Como não se aproveitaria e faria algo assim para me prejudicar? Você acha que tem todas as cartas nas mãos porque acredita que ele te quer, não é?

— Estamos falando da mesma pessoa?

“Ela é louca?”

Carla se levantou, caminhou até mim e parou a poucos centímetros.

— Não finja que não tentou seduzi-lo.

— Você perdeu mesmo o juízo, Carla. — Senti algo vindo na minha direção e, imediatamente, interceptei.

Agarrada à sua mão, a encarei ainda mais.

— Ah! Agora entendi o que está acontecendo. — Digo para nós duas.

— Você tem expectativas de entrar na casa dele e no coraçãozinho de pedra do nosso superior. Que meigo. — Zombei.

— E você acha que é santa? Que me engana? Quer entrar nas calças e pular na cama dele, sua vadia! — Ela rosnou, perto da minha cara.

Apertei sua mão e rapidamente soltei, sentindo nojo dela.

— Seu complexo de inferioridade está no limite. — Despejei. Dei um passo para trás e me virei.

— Acha que me sinto inferior a você? — Não me importei e saí do ambiente. Meu tempo estava acabando.

Caminhei até o grupo escalado e me coloquei em posicionamento. O delegado apareceu. A primeira pessoa que ele viu foi a mim, por mais estranho que parecesse.

Me irritei com a possibilidade das palavras infundidas de Carla terem algum sentido para ele.

“Preciso cortar o mal pela raiz!” Eu tinha uma missão pessoal agora: iria tirar sua atenção de mim, chamando Carla para o centro. Eles se mereciam.

Eu jamais iria querer que seus olhos recaíssem sobre mim de outra forma.

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