Clarice Martins
— Uma palavra, senhor! — pedi assim que ele parou na nossa frente.
— Diga, se não for para perder nosso tempo. — Apertei os dentes, com vontade de fazer cara feia. — Quem será meu parceiro? — Eu irei começar a explicar agora, Martins — falou, chateado.Fingi não perceber os olhares curiosos e sutis dos meus colegas, com apenas uma mulher além de mim no grupo.
— Queria pedir alguém específico que não está no grupo — fui audaciosa. — Por que acha que vou colocar mais alguém só porque você pediu, Martins? — Ele me encarou. Nesse momento, vi de soslaio Carla sair da outra sala. — Não penso assim. Mas, se vamos falar de rapidez e eficiência, não podemos esquecer da agente mais ágil desse departamento. E eu gostaria de ser parceira dela — bajulei Carla por obrigação, já que precisava chamar a atenção dele para ela.“Ugh!” Era desagradável elevar alguém que fazia de tudo para me passar para trás apenas por ciúmes, e não por uma avaliação merecida.
— E quem seria essa pessoa? — Ele cruzou os braços com seriedade. Na sua cabeça, eu estava brincando com ele. — A agente Sullivan. — Soltei uma das mãos que estava atrás das costas e a estendi na direção dela, que estava um pouco mais afastada de nós.Hudson sequer olhou para ela, mesmo que Carla tivesse os olhos bem abertos para o nosso lado. O pelotão continuou em silêncio, principalmente quando ele parou à minha frente, bem perto, me encarou de cima e disse:
— Essa é sua melhor atitude? — Me encarou.Pisquei algumas vezes. O delegado insinuou sobre palavras desnecessárias, além de perder tempo, sem atitude encorajadora ou contribuição relevante para a operação.
“Droga!” Ele estava prestes a me humilhar. — E por que acredita que vou levar em consideração as suas palavras? — Se aproximou mais, quase juntando nossas faces. — Senhor, só tentei ser útil — murmurei, apertando as bochechas com os dentes, chateada. — O que pensa que está fazendo, Martins? Está reclamando da minha organização? Se acha melhor que todos aqui?“Ótimo. Ele enlouqueceu de novo.” Quis bufar.
Uma hora ele me separaria do grupo, e eu teria tempo para questioná-lo moralmente. “Não. Não posso perder minha promoção.” Eu visava subir de nível e me tornar investigadora.Suspirei internamente. Nada poderia ser feito na pressa.
Ele se afastou de mim e disse em alto tom as instruções sobre a missão, enquanto eu tentava não pensar nas minhas frustrações.Com a operação em andamento, estávamos divididos em duplas em cada viatura, todos preparados para ouvir as últimas ordens assim que chegássemos.
Sirenes silenciosas, apenas ligadas para fazer ultrapassagens no trânsito.As viaturas estacionaram a duas quadras do local, longe o suficiente para não alertar os alvos: um apartamento no subúrbio.
Com nossas armas em punho, observamos o movimento, com cuidado, mesmo percebendo que tudo estava calmo. “Não é sempre tão calmo assim.” Estranhei a situação. — Sei o que está pensando — anunciou meu parceiro, alto e magro. “Agora todos sabem o que passa pela minha cabeça?” Apertei os cantos dos lábios. — Está calmo — digo, acompanhando seu sussurro. — Vou relembrar: o chefe deles está no norte da cidade. Apenas as pessoas responsáveis por separar o dinheiro e a droga estão no local.Eu poderia reclamar por tantas atitudes rudes, mas já estava acostumada com as maneiras deles de agir comigo.
“Tudo era espelho do tratamento de Hudson para comigo.” Aquele homem dificultou minha vida desde que nossos caminhos se cruzaram. Podia até mesmo ver seu sorriso arrogante quase pintando seu rosto, enquanto ele estreitava os olhos castanhos para mim.Ouvimos o rádio chiar baixo, de onde a voz do dito cujo saiu:
— Se mexam! — Vamos! — convidou meu parceiro.O prédio era modesto, com três andares e paredes que pareciam nunca ter conhecido tinta nova. O informante garantiu que o apartamento no segundo andar era o ponto onde traficantes estariam armazenando drogas e armas.
O pelotão se dividiu em pares, cobrindo cada entrada e saída do prédio. Eu fui designada para a parte dos fundos com Pereira. Meu parceiro era um investigador sério, calado e metódico. Ele não falava muito, mas era do tipo que entregava resultados.
— Vamos manter a lateral direita coberta. Se eles tentarem sair, vão cair direto nas nossas mãos — disse ele, com a voz baixa, sem olhar para mim. Era como se ele estivesse narrando para si mesmo.O rádio chiou no meu ouvido. O delegado deu o sinal para avançar.
Dois pares além de nós entraram, e os outros cobriam as entradas e saídas.Com cuidado, subimos a escada de metal que levava ao segundo andar pelos fundos. O som de passos abafados no corredor nos mantinha alertas. Meu coração batia rápido, mas mantive o foco. Pereira seguia à frente, com os olhos atentos a qualquer movimento.
A porta do apartamento estava entreaberta. Péssima ideia para os criminosos; ótima para nós.
“Por que me parece uma armadilha?”Pereira fez um gesto com a mão, indicando que eu ficasse na retaguarda. Ele empurrou a porta devagar, revelando uma sala pequena e abafada.
— Polícia Civil! Ninguém se mexe! — A voz firme de outro colega ecoou pelo corredor. Gritos e sons de objetos caindo vieram de dentro do apartamento.Dois suspeitos tentaram fugir pela sacada. Mal haviam colocado os pés do lado de fora quando Pereira os interceptou com uma agilidade surpreendente, sacando a arma e gritando:
— Encosta! Não vou repetir.Enquanto ele algemava os dois, eu vasculhava o apartamento. Era exatamente como o informante havia descrito: malas de dinheiro e uma pilha de armas embaixo do sofá.
— Achamos! — avisei no rádio, correndo os olhos por todos os achados. “Eu deveria me preocupar com a facilidade dessa missão?”