Clarice Martins
O meu dia de folga foi para o ralo assim que o som do meu celular soou. Corri para capturá-lo imediatamente. Era meu superior.
Suspirei, me preparando para ter os planos de Laura estragados: — Senhor Renkins. O que deseja? — Senhorita Martins. Temos um trabalho urgente agora mesmo, e gostaríamos que estivesse aqui dentro de vinte minutos. — Sua voz soou com firmeza. “Gostaríamos. Quem ele quer enganar?” “Adeus, planos. Adeus, folga!” choraminguei por dentro. — Estarei me preparando, senhor! — Não adiantaria negar; seria ainda pior. — Se preparando? Esteja aqui em dez minutos! — deixou a voz ainda mais firme. “Já mostrou as garras. Eu sabia que não demoraria muito.” — Senhor… — Recordei-me do meu erro anterior. Sempre que eu tentava corrigi-lo, ele encurtava o tempo ainda mais, testando-me e dificultando minha vida ao máximo. — O que foi, Martins? “Eu odeio quando ele quer insinuar que eu deveria ser homem.” Apertei os dentes. Ele me chamava pelo sobrenome com firmeza para atrair a atenção de todos ao redor. — Estarei aí em nove minutos! — assegurei. Para minha sorte, ele desligou imediatamente.Corri pelo quarto, tirando o pijama pelo caminho, seguindo rumo ao banheiro para tentar aliviar a ressaca.
Consegui me arrumar antes dos cinco minutos, pois já estava acostumada com o modo apressado de fazer tudo — por causa de Renkins. Ele era meu pesadelo. Vesti minha calça negra, uma blusa de alça também preta, coloquei o celular na bolsa pequena e corri para fora do quarto, penteando os cabelos no processo.— Ei! Que doideira é essa? — Laura gritou assim que passei pela sala, terminando de arrumar meu cabelo.
Amarrando-o em um rabo de cavalo, joguei a escova de dentes mole para ela: — Guarda pra mim! Temos que cancelar os planos! — Corri para a saída, tentando evitar seu olhar de chateação. — Clarie! De novo? — reclamou assim que pegou a escova do chão, vendo-me quase passar pela porta. — Infelizmente, é assim que consigo pagar a metade do aluguel. — Disse com pressa, vendo seus lábios apertados em um bico e os olhos negros estreitos. — Pelo menos atingi aquele idiota arrogante do Renkins com sua ressaca! — gritou, fazendo minha cabeça pesar de novo pelo barulho. Fechei a porta com um sorriso dolorido no rosto, correndo para o meu carro. “Quem dera eu pudesse.”Cortei várias pessoas no caminho, ganhando uma dezena de multas. Logo estava caminhando apressadamente para a porta do escritório do meu superior.
Bati três vezes e ouvi sua voz soar com a permissão de entrada. Respirei fundo, fingindo não ter nenhuma dor de cabeça. “Vamos ver a cara desse idiota de novo.” Normalmente, eu já faria uma careta interna, sentindo o peso da realidade por sua existência, mas hoje não era apenas isso. Eu realmente havia pensado que teria meu tão sonhado dia de folga na noite anterior. Então, além da decepção, tinha a ressaca.— Estou aqui, senhor! — Fechei a porta atrás de mim.
Na minha frente estava o homem alto, de cabelos castanhos escuros, óculos de armação retangular com lentes estreitas, sobrancelhas médias, rosto angular, barba feita e lábios finos abaixo de um nariz igualmente fino. Vestia uma camisa social amarelo queimado, gravata, calças sociais e sapatos. Ele tinha trinta e sete anos, enquanto eu tinha vinte e seis. Talvez por isso gostasse de fazer da minha vida a mais difícil. Permaneci reta, em posição de receber comando.Seus olhos saíram do relógio de pulso enquanto ele me repreendia:
— Vinte minutos. Onze de atraso. “Claro que me atrasei porque quis. Eu sei voar e não preciso enfrentar o trânsito.” — Peço desculpas, senhor! — Apertei os dedos atrás das costas, tentando amenizar meu mau humor. — Seis multas em nove minutos. — Ele me encarou. Eu segurei o riso, apesar de tudo. “Dois minutos salvos.” Contei os minutos que sobraram sem multa. — Esses são os nove minutos que me pediu? — Ele estreitou os olhos, me avaliando.Ele certamente insinuou que fiz de propósito apenas para irritá-lo.
“Como se eu gostasse dessa sua cara azeda me repreendendo.” Eu não gostava de sua atenção exagerada em cima de mim o tempo todo. Ele não era apenas meu superior; agia como se eu fosse sua única subordinada.— Precisava chegar o mais rápido possível. Tinha um chamado. — Foi tudo que disse.
— E essa roupa? Onde está a farda? — Questionou, mesmo ciente de que eu tinha vindo direto para sua sala. — Vim direto para sua sala, senhor Renkins. Minha vossa senhoria. — Avisei, tentando manter meu profissionalismo, mas inevitavelmente acabei zombando na realidade mais do que nos pensamentos.Seus olhos ainda estavam em mim. Ele os apertou com chateação.
“Só porque é o delegado geral não quer dizer que eu seja a única presa fácil nessa selva.” Bufei internamente, evitando ficar nervosa por meu erro cometido.— E tire os óculos! — Ordenou, colocando as mãos nos quadris, como se já esperasse algo de errado.
“Filho do…” Lentamente, tirei os óculos escuros. Ele soprou. “Não vai me dizer que descobriu algo mais sobre mim. Como a minha saída à noite?” — Então é verdade o que descobri. — Disse ele, sem perguntar. “Você não vai me pegar com essa rede.” Se ele tentava me fazer falar antes mesmo de mencionar, ele esperaria muito.Diante do meu silêncio, ele me provocou abertamente:
— E como anda a ressaca? A noite foi bastante divertida, não é? “Quê? Como soube?” — A vossa excelência pediu para me seguirem? Não acredito que tenha uma conduta ruim para chegar a tal ponto. — Tentei manter a calma.Seu olhar castanho e afiado parecia me acusar, atirando facas à distância.
— Está tão segura do seu bom comportamento, Martins? — Ele com certeza sabia da raiva que me causava quando me chamava daquela forma. Apertei os dentes, chateada: — Sim, senhor! — Então está querendo dizer que meu cuidado em prestar atenção em você é pura opressão? Que estou perseguindo você deliberadamente? “É a melhor forma para apontar isso. Obrigado!” — Eu não disse… — fui interrompida de forma abrupta. Sua pergunta fez um arrepio subir na espinha. — E se eu estiver?