"Era Holi quando o vi pela primeira vez... O fim do Inverno e início da Primavera na Índia. O bem venceu o mal! Era Holi! Somente coisas boas acontecem neste dia... Não é? Ele me prometeu o mundo. Mas quando o verão acabou, ele levou junto o meu sonho. Minha felicidade. Minha inocência. Era Outono quando ele foi embora." Há 7 anos Kali foi abandonada pelo homem que jurou amá-la por toda a vida. Ela desonrou sua família e pagou caro por isso... mas ele não estava lá para pagar o preço ao seu lado. Agora ele está de volta, há duas fileiras da sua poltrona, no mesmo Teatro. Sorrindo com outra mulher. E a única coisa em que ela consegue pensar é em se vingar do homem que destruiu sua vida e seu coração. Até que uma surpresa do Destino muda todo o rumo da sua vida. Nosso Último Verão é uma história de amor e superação; sobre reencontros, surpresas e reviravoltas que a vida nos reserva. Mas lembre-se: nem todas as histórias de amor tem finais felizes.
Ler maisA sensação de levar um soco no estômago é a primeira coisa que sinto ao ouvir a recepcionista do hotel. Meu cérebro demora alguns segundos para processar as palavras exatas que ela disse. Então sinto como se milhões e milhões de formiguinhas estivessem subindo pelo meu corpo, desde as pontas dos meus dedos dos pés protegidos debaixo do meu sári, até a ponta dos meus fios de cabelo. Elas me mordem e deixam seu veneno sob minha pele, trazendo uma sensação de anestesia. E então o veneno chega às minhas veias, congelando cada terminação nervosa do meu corpo. E meu coração erra uma batida.
ㅡ O que disse? ㅡ sussurro sem forças e a mulher me olha com pena.
ㅡ A família Huxley foi embora há três dias, menina. ㅡ sua voz é baixa ㅡ Vá embora antes que chame a atenção de um adulto. Tchalô, tchalô!
Cambaleio alguns passos para trás, completamente desnorteada. Ele foi embora?
Ele foi embora.
Saio do hotel sem rumo, sem chão. Tento ligar novamente para seu número, mesmo já sabendo que a resposta será a mesma dos últimos três dias.
"Este número não existe. Este número não existe."
Percebi que tinha algo errado no momento em que ele foi embora pela janela do meu quarto, como nos últimos meses, mas não avisou quando chegou no hotel. Não entrou mais em contato. Nenhuma mensagem. E hoje, quando acordei, seu I*******m havia sido desativado.
Ele foi embora. Sem avisar. Ele jurou que me amava...
Jurou, mas foi embora.
Como uma raposa maldita que entra no galinheiro durante a noite, destrói tudo que vê e depois sai em silêncio, sorrateiramente, e apenas no dia seguinte se contabiliza o estrago.
O estrago estava enraizado em mim. Nas profundezas de meu ventre há seis semanas. O estrago tinha um mini coração, que batia incansavelmente dentro do meu corpo.
Eu estava perdida. Minha família iria me jogar no fundo do Ganges com uma pedra amarrada em meus pés. Serei amaldiçoada por meu baldi, e mamadi será rechaçada pela sociedade por ter uma filha impura.
Eu destruí minha família. E ele foi embora.
Não percebo até que estou na porta de minha casa. Não tenho coragem suficiente para entrar e ver a decepção nos olhos de minha mamadi quando contar o que fiz da minha vida.
Sinto meu celular vibrar em minha bolsa e pego no modo automático. É um e-mail da clínica de firanghis que fui hoje fazer o exame, uma lista de vitaminas para uma gestação saudável. Mas eu não quero um filho, Are Baba, eu vou queimar no fogo ardente por isso, mas eu não quero esse filho.
ㅡ O que está esperando para entrar? ㅡ escondo meu celular e olho assustada para Kabir ㅡ O que estás escondendo aí, hã? Não temos segredos um com outro. Ou temos?
Engulo em seco e me sinto a pior pessoa da face desta horrível terra. Nunca houve segredo entre nós. Até ele aparecer. Maldito seja!
ㅡ Didi, o que houve? ㅡ ele se aproxima e examina meu rosto de perto ㅡ Estás pálida.
ㅡ Tik, é só cansaço. ㅡ sorrio fracamente e ele acena desconfiado.
Entramos em nossa casa e pelo sapato na porta sei que meu baldi já chegou da empresa.
Nossa família é dona de uma rede de joalherias por toda a Ásia. Um negócio de família, que passa de geração em geração. Por ser mulher, não terei direito, mas Kabir já tem sua parte das ações e uma conta recheada de rúpias no banco desde que seu baldi morreu num acidente de avião com sua mama.
Fomos criados juntos, baldi o acolheu como o filho homem que mamadi nunca conseguiu lhe dar. Kabir é mais que um primo, ele é como um bhaya para mim. Terei que contar-lhe a verdade, se não nunca me perdoará.
Sinto o cheiro de pani puri assim que entramos em nossa sala. Baldi está sentado assistindo TV, em sua poltrona habitual, e sorri quando nos vê.
ㅡ Luz da minha casa! ㅡ ele diz para mim quando faço o Prônam Mudrá e Kabir faz o seu em seguida ㅡ Ditero beti, ditero beti.
ㅡ Como passou seu dia, baldi? ㅡ Kabir inicia uma conversa enquanto fico em silêncio, sentada, apenas observando a interação dos homens de minha família.
Kabir puxou o lado materno, sua pele é mais clara que a minha, mas somos parecidos na cor dos cabelos escuros e nos olhos castanhos expressivos. Usa óculos desde que iniciou seus estudos, e sempre foi o mais inteligente de nós, o que o fez chegar a faculdade com apenas dezesseis anos. Seus pais teriam muito orgulho se ainda vivessem entre nós.
Orgulho que meu baldi faz questão de demonstrar todos os dias desde que Kabir assumiu sua parte nos negócios da família, mesmo que ainda falte um ano para pegar seu diploma de Ensino Superior.
Aarav Akshay é conhecido no mundo dos negócios de jóias pela sua mão de ferro. Homens já choraram com apenas um olhar de meu baldi. Sua pele é escura, como mel concentrado de abelhas, seus olhos negros como a noite, é um homem alto e robusto, consideravelmente bonito. Casou com mamadi quando ela tinha apenas dezessete anos, e engravidaram no primeiro mês de casamento. Ele nunca cobrou um filho homem à ela, mas sabemos que mamadi carrega essa culpa em seu íntimo.
ㅡ Didi? ㅡ sou arrancada de meus devaneios pela voz de Kabir.
ㅡ Ham? ㅡ olho dele para baldi, que voltou a olhar para TV.
ㅡ O que está passando nessa sua cabecinha de vento?
ㅡ Nahin, bhaya, atchá! ㅡ sorrio fraco e ele me olha desconfiado.
ㅡ Sabe que estou aqui por você, ham… ㅡ ele sussurra.
ㅡ Chukriá... ㅡ sussurro de volta.
Nossa conversa não continua pois mamadi no chama da cozinha avisando que o jantar está na mesa.
Nivedita Akshay é uma mulher de pulso firme, não muito carinhosa. Se colocar numa balança, baldi vence disparado na questão "carinho com a filha". Mas sua beleza é indiscutível, o que causa muito ciúmes de seu marido nas festas e reuniões da empresa.
Mamadi possui uma pele perfeita, da cor exata de um delicioso doce de amendoim. Seus olhos grandes e sedutores foram o que fizeram o duro Aarav se apaixonar na primeira vez que a viu. Foi um casamento arranjado, tradicional na Índia, mas foram abençoados pelo amor antes mesmo do Grande dia.
Meus pais eram felizes. Somos considerados uma família perfeita, usados como exemplo em diversas capas de revistas das altas castas. E eu estraguei tudo.
O vindaloo estava delicioso, contrastando perfeitamente com a refrescância do lassi de hortelã. Comemos em um silêncio confortável, como todos os dias, saboreando as especiarias picantes da suculenta carne de porco que é a especialidade de nossa família.
ㅡ Djan, amanhã iremos ao tempo, ham? ㅡ mamadi se dirige à baldi enquanto retiramos as louças da mesa.
Por mais aberta à tecnologia e novas tradições que nossa família seja, eu nunca ouvi mamadi chamando baldi pelo seu nome. Sempre o chama de "Djan" ou "papa", e faz questão de frisar que terei que seguir seu exemplo de "boa esposa" quando eu for mãe e responsável por uma casa.
ㅡ Tik, iremos juntos.
ㅡ Mamadi, posso ir com Saniya? ㅡ invento uma desculpa quando me olha questionadora ㅡ Ela me convidou para um chai após o almoço, e como mora próximo ao templo…
ㅡ Tike he, só não se atrase. ㅡ ela responde depois de pedir uma confirmação com o olhar para baldi.
Sorrio, agradecida, e vou para meu quarto. Caminho com um nó na garganta, sentindo o choro prestes a derrubar a barreira de meus olhos. O que acontece assim que fecho a porta e me vejo no lugar em que passei meus dias e noites com ele. Desabo na cama em que perdi minha inocência e fui feita mulher através do corpo dele.
Ah, Bennet, por que fez isso comigo? Como foi capaz de mentir por meses apenas para se aproveitar de mim?
Seu sorriso de lado e olhos da cor do mar, tão encantadores, tão envolventes, cegaram-me para minhas crenças e desonrei minha família.
Suas palavras doces, convidativas, me derretiam como manteiga em fogo quente, me faziam não pensar em nada, apenas no momento de êxtase que nos tirava de órbita e nos elevava a um mundo só nosso, em que não existia tradição, nem casamentos arranjados, em que existia apenas amor.
Mas não era amor. Era tudo mentira.
Bennet Huxley é um mentiroso. Uma naja peçonhenta que me encantou com sua beleza e sua música para, depois de dar o bote, me abandonar agonizando com seu veneno dentro de mim. Porque era isso que essa criança era. Um veneno.
A consequência do maior erro da minha vida.
Os beijos lentos e úmidos de Kabir me despertam de um cochilo que durou mais do que deveria após o almoço. Sinto sua boca quente subindo pelas minhas costas, da base da coluna até o pescoço. Ele afasta meus cabelos com delicadeza e distribui mordidas suaves no meu ombro direito.— Hum... o outro vai sentir ciúmes — murmuro, ainda sonolenta.— Are baba, não posso deixar isso acontecer, minha deusa...Sua boca desliza até o outro ombro, e seus dentes mordiscam minha pele como quem conhece cada centímetro da minha vulnerabilidade. O prazer é imediato. Kabir sempre foi devoto dessa parte do meu corpo, ombros e pescoço, e nunca deixa de demonstrar isso nos nossos momentos a sós.Viro-me de frente para ele, e nossos lábios se unem com urgência. Suas mãos sobem por meu sari, vagarosamente, apertando e explorando com precisão cada curva. Nossas línguas se entrelaçam, e nossos corpos começam a incendiar. Arranco sua camisa com pressa, fazendo-o rir contra minha boca, ele conhece minha fome. Co
É estranho pensar que já se passaram seis anos desde que segurei aquele corpinho quente e enrugado pela primeira vez. Parece que foi ontem, e ao mesmo tempo, parece que vivi uma vida inteira desde então. Ela chegou num silêncio que gritou dentro de mim. Lembro do cheiro dela, da pele fininha, dos olhos que mal abriam mas pareciam me reconhecer. Ali, meu mundo mudou.Os primeiros meses foram uma mistura de exaustão e encantamento. Cada sorriso banguela, cada barulho novo, cada madrugada em claro. Eu aprendi a ser mãe com ela, tropeçando, acertando, errando, recomeçando. Quando ela começou a andar, era como se o mundo tivesse ficado pequeno demais para conter tanta vontade de explorar. E quando falou "mamãe" pela primeira vez, eu chorei. Era só uma palavra, mas vinha carregada de tudo.Agora ela tem seis anos. Já é uma menina. Não mais um bebê, mas ainda tão minha. Tão cheia de perguntas, de histórias que inventa na hora, de abraços apertados que me fazem esquecer o tempo. Às vezes olho
Saí do restaurante com o coração ainda pesado, a cabeça cheia de imagens e emoções conflitantes. Kabir estava me esperando dentro do carro, no estacionamento, com a cabeça encostada no banco e os olhos fechados. Ele não iria embora sem mim. Esse é meu marido. Mesmo magoado, jamais me deixaria para trás.O silêncio no carro era quase ensurdecedor, uma espécie de peso que pesava sobre nós, embora ninguém tivesse coragem de falar nada.Quando chegamos em casa, ele saiu do carro, sem me esperar; e por um momento, fiquei ali, tentando respirar, tentando esconder o turbilhão de emoções. Mas eu não poderia deixar isso nos afastar.Fui até ele, que ainda estava na sala, de olhos fixos em mim, como se pudesse ler tudo o que eu escondia. Sem palavras, sem pedir permissão, meus braços envolveram seu pescoço, e meus lábios encontraram os dele em um beijo profundo, desesperado, como se precisasse dele para sobreviver.Ele respondeu na mesma intensidade, puxando meu corpo contra o dele, quase como
Os anos se passaram num piscar de olhos. Com uma criança em casa, a sensação que tivemos foi a de que o relógio virou nosso maior inimigo. As noites, curtas demais. Os dias, longos demais. Mas, ao mesmo tempo, os meses correram demais.Piscamos e Niyati aprendeu a engatinhar. Outra piscada, e ela já estava andando pelos corredores, espalhando brinquedos e alegria por toda a casa. Seu primeiro ano foi cheio de aprendizados. Ela aprendia com facilidade, e já falava muitas palavras. Com dois anos ela já conversava feito uma mini adulta, e entrou na fase de birras. Foi difícil, muito difícil. Mas Kabir conseguia acalmar nossa pequena fera todas as vezes.Chegamos aos três anos de casamento, com nossa família muito unida e com muitos planos para o futuro. Decidimos sair para comemorar, apenas nós dois, uma coisa que não fazíamos há mais de dois anos e meio, desde que nossa filha nasceu.A luz do restaurante era suave, como um abraço silencioso. As risadas ao redor, o tilintar das taças, o
A casa parecia respirar diferente quando entramos com Niyati pela primeira vez.Era a mesma sala, os mesmos móveis, os mesmos cheiros... e, ainda assim, tudo tinha mudado. Como se agora cada canto carregasse outra frequência. Mais delicada. Mais viva.Ela dormia o meu colo, enrolada naquela mantinha bege que Kabir escolheu no sexto mês da gestação. A primeira que ele comprou com as próprias mãos.– Você acertou. – murmurei, olhando pra ele – Você disse que ela ia gostar dessa manta, mesmo que fosse neutra, pois ela era macia.Kabir sorriu. Cansado, orgulhoso. Um pouco assustado também.– E você ainda duvidou da minha escolha. – ele me deu um sorriso torto.Ele se aproximou e beijou minha têmpora, com muito carinho. Depois tocou Niyati com o dedo, leve como um pensamento.– Bem-vinda ao lar, minha pequena.Os primeiros dias foram uma névoa. De mamadas, trocas de fralda, noites em claro e choros, dela e meus. Houve uma madrugada em especial, quatro dias depois, que ainda ecoa em mim. N
– Are baba! – baldi chega pelo corredor – Que gritaria é essa em minha casa?– A bolsa dela estourou! – Kabir corre até mim e abraça a minha cintura, me levando de volta até a cama.Sentada, vejo os dois homens trabalharem em sincronia enquanto pegam todas as malas para a maternidade. Ananya chega ao meu lado, com um sari vermelho em mãos, e sorri com lágrimas nos olhos.– Não acredito que cheguei em um momento tão importante para você, minha pequena. – sua voz embargada é calma e baixa, e sorrio ao abraçá-la.– Não consigo acreditar que está aqui comigo! Meu marido procurou por você todo esse tempo! Você sumiu, Nany, pode onde esteve? – questiono enquanto ela me levanta e caminha comigo pelo quarto.– Are baba, não podia imaginar que estava bem e casada, chorei todo esse tempo com medo do que poderia ter acontecido com você. – entramos no banheiro e ela tira minha roupa de dormir com cuidado – Eu mudei de casa, por medo. – diz, dando as voltas do sari vermelho em meu corpo – Por isso
Último capítulo