Amélia
O céu estava carregado de nuvens pesadas, o ar úmido e denso como se pressentisse o que estava por vir. O sítio permanecia calmo por fora, mas por dentro, o destino de Amélia estava prestes a mudar drasticamente — mais uma vez.
Ela lavava a pequena louça do almoço com movimentos lentos. O enjoo da manhã tinha sido forte, mas o chá de erva-cidreira ajudara. Estava cansada. E com medo. Os sonhos estranhos, a sensação de estar sendo vigiada, tudo pesava sobre seus ombros. Desde que soube da gravidez, o instinto de proteção cresceu dentro dela com força quase selvagem.
Os tios de São ótimas pessoas, ela não queria que eles corressem perigo por causa dela.
De repente, ouviu um estalo na madeira do alpendre.
Parou.
Outro som. Passos. Lentos. Calculados.
Amélia deixou o prato na pia e andou silenciosamente até a porta dos fundos, abrindo-a com cuidado. Seu olhar varreu o quintal. Nada.
Apenas as folhas secas voando com o vento.
Mas quando se virou para entrar novamente, deu de c