A transição foi sutil, depois avassaladora. O asfalto interminável das rodovias de Minas deu lugar ao verde exuberante e úmido do Recôncavo Baiano. O ar que entrava pela janela do carro mudou; perdeu o cheiro de poeira e pasto e ganhou a fragrância densa de terra molhada, de flores exóticas e, finalmente, o sopro inconfundível do sal. O mar.
Lara despertou não com um som, mas com esse cheiro. Era uma memória olfativa, tão profunda e antiga que seu subconsciente a reconheceu antes de sua mente consciente. Ela abriu os olhos, piscando contra a luz forte do sol. A paisagem era de um verde tão vibrante que chegava a doer. Coqueiros se inclinavam sobre a estrada, e ela podia ver, entre as árvores, o brilho azul e infinito do oceano.
— Estamos chegando — a voz de Gabriel a tirou de seu torpor.
Ela se sentou ereta, o coração batendo um pouco mais forte.
— Eu me lembro... — ela sussurrou, mais para si mesma do que para ele. — Eu me lembro dessa estrada.
Ele não respondeu, apenas assentiu, man