Lara acordou com o som das ondas. Por um instante, em seu estado sonolento, ela era uma criança novamente, na casa de praia de sua mãe, o único perigo no mundo sendo a possibilidade de a maré levar seu castelo de areia. Mas então a realidade a atingiu com a força de um soco. Ela abriu os olhos e viu o teto de madeira descascada, sentiu o cheiro de mofo e salitre. E se lembrou. Lembrou-se do tiroteio, da fuga, do homem que dormia no sofá da sala.
Ela se levantou em silêncio. As roupas que ele lhe dera estavam dobradas em uma cadeira. Vestiu-as. Eram simples, anônimas. Pareciam o uniforme de sua nova vida.
Saiu do quarto. A casa estava silenciosa, exceto pelo som do mar. A sala estava vazia, o sofá arrumado com uma precisão militar. Por um momento, um pânico gelado a percorreu. Ele a havia deixado ali? Abandonado? A ideia era ao mesmo tempo um alívio e um terror.
Então, ela o viu.
Ele estava na varanda da frente, sentado nos degraus de madeira, uma caneca de metal entre as mãos. Estava