A cidade de São Paulo morria lentamente no espelho retrovisor, suas luzes de sentinela se tornando um borrão distante e depois, nada. Gabriel dirigia o carro roubado com uma eficiência que beirava a automação, as mãos firmes no volante, os olhos se movendo em um padrão constante: estrada, retrovisor esquerdo, retrovisor direito, estrada novamente. Eles saíram do motel no breu das quatro da manhã, um fantasma e uma refém voluntária, deslizando pelas artérias vazias da metrópole adormecida.
Lara estava sentada no banco do passageiro, encolhida contra a porta. As roupas simples que ele lhe dera pareciam um disfarce, uma tentativa de se apagar, de se tornar anônima como ele. Ela olhava para a paisagem urbana desaparecendo, sentindo como se cada quilômetro percorrido fosse um fio de sua antiga vida se rompendo. Deixar para trás a cidade não era apenas uma fuga; era um exílio. Ela estava deixando para trás sua casa, sua amiga, seu pai e toda a estrutura de sua realidade, por mais falha que