Transparência que fere.
LEONARDO CASSANI
Duas semanas depois daquilo que o mercado vai chamar, lá fora, de “a noite que incendiou a casa”, mandei chamar o comitê executivo. Queria tempo suficiente para que a poeira do choque assentasse, mas também queria que a ânsia começasse a corroer. Não queria demonstração virulenta; queria burocracia afiada como lâmina. A lei é o único instrumento que humilha o covarde e fere o traidor sem sujar as mãos.
A sala de vidro fica no centro do último andar: paredes duplas, acústica projetada para que o ruído não escape e o olhar de todos prenda o que for dito. Entrei e vi os rostos conhecidos — Clara, Henrique, Sofia, Melissa — com a expressão de quem calcula se ainda respira ou se já vendeu o próprio fôlego. Dr. Carvalho trazia o malote de couro. Ravi já ocupava a mesa com dois laptops prontos. Ao meu lado, Norman estava sentada à direita do lugar que escolhi para mim, porque precisava haver um rosto limpo ali: a secretária executiva do CEO, a prova