Quando o passado deixa de ser segredo
LEONARDO CASSANI
A chuva batia na janela como se tentasse traduzir o tempo.
A luz amena do abajur fatiava o silêncio em retalhos.
Norman estava no meu peito, os dedos entrelaçados, o olhar curioso.
Quando ela fez a pergunta, algo em mim se alargou — sabia que precisava ser claro, sem mitos, sem omissões.
— Leo… quem é exatamente o Navarro pra você? — ela disse, e a voz trouxe a inocência das perguntas que mudam tudo.
Respirei, deixei o peso das palavras assentar no peito.
Havia uma história longa atrás daquela pergunta, um caminho com sangue e escolhas que não dava pra resumir sem ferir a precisão dos fatos.
— Quando eu tinha oito anos — comecei —, meus pais se separaram. Lorenzo ficou com o Amaro; eu fui com a Laura.
Crescer longe do pai me deu duas coisas ao mesmo tempo: um amor que me salvou e a sensação amarga de que teria que provar meu lugar no mundo.
Não sabia ainda que aquilo definiria tudo o que viria depois.
Aos dezoito entrei para o ex