Quando o poder sangra pelo cheiro
VITTÓRIO BIANCHI
A porta bateu atrás dela como um tiro abafado. O silêncio que ficou me engasgava mais do que o cheiro que aquela vadia deixou no ar. Esperma. Suor. O recado dele.
Passei a mão pelo rosto, depois pelo anel dos Bianchi — as serpentes entrelaçadas em torno da adaga. Símbolo de poder, de controle, de sangue. Mas, pela primeira vez em muito tempo, o símbolo me pareceu sujo. Profanado.
Amaro Cassani.
O velho bastardo não só sobreviveu ao tiro que mandei, como ainda ousou me cuspir na cara através da minha própria filha. Usou Isabella como carta, como isca, como brinquedo. E pior: me fez receber esse recado impregnado nela, como se eu fosse obrigado a respirar o cheiro dele dentro da minha casa.
— Figlio di puttana… — rosnei, cuspindo no chão.
A imagem dela gemendo por ele me corroía. Não porque eu me importasse com a honra dela — Isabella nunca passou de moeda de troca. Mas porque ele conseguiu me atingir. Ele riu de mim. Ele me mostrou que