Quando um homem descobre que ainda pode amar
AMARO CASSANI
O sol batia manso sobre as folhas do jardim, espalhando um calor que parecia querer secar mais do que a pele — secar as velhas feridas. Apoiei a mão na bengala e nem forcei: Noêmia veio depressa, oferecendo o braço com cuidado. O toque era prático, sem afetação, mas havia ali uma gentileza que me obrigava a ser sincero.
Sentamo-nos na velha poltrona de ferro. Ela ficou ao meu lado, imóvel, profissional e discreta. Olhei para a sua face — marcada pelo cansaço, mas com uma espécie de firmeza que me acostumara a dias e noites de rotina. Respirei fundo. A verdade não precisava de ornamentos; precisava de coragem.
—Senhor Amaro? — ela ensaiou, a voz contida.
— Apenas Amaro. — cortei, e ela sorriu, pequeno gesto que me aqueceu.
— Diga-me: você já se sentiu só numa casa cheia? Ela me olhou com aqueles lindos olhos azuis.
Ela inclinou-se, pronta a ouvir. Não era só a pergunta; era um pedido.
Faz anos que eu vivo entre paredes que me