Quando a filha vira a arma do pai
ISABELLA CONTI FERRAZ
O corredor da mansão exalava aquele perfume caro que sempre me sufocava — mistura de mármore encerado, charuto cubano e poder velho. Mas, naquela noite, eu carregava um cheiro muito mais forte. Eu mesma sentia, a cada passo, o gozo dele escorrendo nas minhas coxas, secando na calcinha puxada de volta às pressas. Amaro Cassani tinha me usado como queria, tinha me negado o orgasmo, e ainda me mandou como mensageira.
“Leva meu recado pro seu pai, vadia. Vai com meu cheiro.”
Era isso que eu levava: o recado impregnado no corpo.
A cada passo no mármore frio, os empregados desviavam os olhos. Sabiam. Aqueles cães sabiam. Podiam sentir. A filha de Vittorio voltava marcada. E eu rangia os dentes, mantendo a cabeça erguida.
No portão interno, o segurança fez o gesto mecânico.
— Documento.
Arregalei os olhos. — Vai brincar comigo, Marco? Você vai mesmo me pedir apresentação dentro da casa do meu pai?
Ele hesitou. O suor brotou na testa del