O sol mal tinha vencido a neblina quando desci. Antônio ainda terminava de arrumar as coisas no quarto, e eu me ofereci para pegar o carro. Queria respirar um pouco de ar fresco, e — talvez — tentar afastar a sensação sufocante que a noite anterior deixara.
O estacionamento estava quase vazio. O som distante do trânsito contrastava com o silêncio dos corredores.
Quando cheguei perto do carro, notei algo preso sob o limpador do para-brisa. Um pequeno pedaço de papel, dobrado com cuidado.
Por um instante, achei que fosse propaganda, mas o instinto me fez hesitar.
Olhei em volta — ninguém.
Peguei o bilhete. As mãos tremiam antes mesmo de eu abrir.
Era curto. Duas linhas, apenas.
“Nem tudo que você pensa que acabou, realmente terminou.”
O mundo pareceu se calar por um segundo.
Li de novo, tentando encontrar algum sentido lógico, mas não havia assinatura, nem letra familiar — apenas a caligrafia firme, inclinada, de alguém que queria ser entendido.
Olhei ao redor, o coração acele