Li Wei
Minha irmã, Lin, me informou sobre seu 'entendimento' com Lorenzo Amoretti com um sorriso divertido, como se tivesse descoberto um novo e interessante jogo de tabuleiro.
– Ele é protetor,– ela disse, enquanto analisava relatórios em seu tablet. – Uma qualidade admirável em um adversário. Deixei que ele tivesse sua pequena vitória. A apresentação dela ainda será medíocre, e nossa mensagem foi enviada.
Mas a confiança de Lin não acalmou a inquietação dentro de mim. Algo estava errado. A fúria nos olhos de Siena Amoretti Dal não era a de uma golpista. Era genuína. A dor em sua voz ao mencionar o nome "Sofia" era real. E a intervenção de seu primo, um homem cuja reputação em Milão era impecável, adicionava uma camada de legitimidade à história dela que eu não conseguia ignorar.
Minha irmã via o mundo em termos de ativos e ameaças. Eu, como ator, o via em termos de motivação. E a motivação de Siena não se encaixava na narrativa de Lin.
Eu precisava saber a verdade, mas não podia usar a equipe da minha irmã. Eu precisava de alguém que fosse leal apenas a mim.
Encontrei Kenji na minha suíte. Ele não era apenas meu segurança principal; era meu amigo desde antes de eu me tornar um nome global. Um homem de poucas palavras, mas de uma lealdade inabalável e uma eficiência assustadora.
– Kenji,– eu disse, enquanto ele inspecionava o quarto. –Preciso de um favor. Totalmente extraoficial. Lin não pode saber.
Ele parou, virando-se para mim. Seus olhos, sempre atentos, focaram nos meus. – Sempre, Wei. O que você precisa?
– A mulher... Siena Amoretti Dal. Ela tem uma amiga chamada Sofia. Encontre-a. Descubra tudo o que puder sobre ela e sobre um golpe romântico online que ela sofreu recentemente. Eu quero nomes, datas, valores. Quero saber se a história dela b**e.– Respirei fundo. – Mas seja um fantasma, Kenji. Ninguém pode saber que estamos investigando isso.
– Entendido,– disse Kenji, sem questionar. – Vou começar agora.
Enquanto ele saía, um sentimento estranho se instalou em meu peito. Se Siena estivesse certa, então minha identidade estava sendo usada para cometer crimes. E se ela estivesse errada... bem, a vingança da minha irmã já estava em andamento. De qualquer forma, eu precisava da verdade. Aquele tapa havia feito mais do que machucar meu rosto; havia quebrado a fachada da minha vida perfeitamente controlada, forçando-me a olhar para o que poderia estar escondido nas sombras.
Siena
A chegada de Varya transformou a energia nos bastidores. O pânico deu lugar a uma adrenalina focada. O desfile estava de volta aos trilhos. Enquanto eu dava as instruções finais para a equipe de cabelo e maquiagem, senti um toque suave no meu ombro e um cheiro familiar e complexo me envolveu. Uma mistura de osmanthus, pimenta rosa e um toque de incenso. Era o cheiro da minha âncora.
Virei-me, e meu coração deu um salto de pura surpresa e alegria.
– Luna!
Eu a puxei para um abraço apertado, enterrando meu rosto em seu ombro. – O que você está fazendo aqui? Pensei que estivesse em Paris, criando um perfume para algum sheik!
– O sheik pode esperar, ela disse com um pequeno sorriso, ajeitando os óculos de aro fino no rosto. Minha irmã está prestes a conquistar Milão. Eu não perderia isso.
Seu olhar analítico percorreu meu rosto, depois o ambiente frenético ao nosso redor. – Pelo visto, a conquista está sendo mais... dramática do que o esperado. Lorenzo me contou o básico no caminho para cá.
Eu a levei para um canto mais tranquilo. – É um pesadelo, Lu. Eu estraguei tudo.
– Você defendeu sua amiga,– ela corrigiu gentilmente. – Sua metodologia foi, como sempre, questionável, mas sua intenção foi pura.– Ela se inclinou um pouco, como se estivesse analisando uma nota de perfume rara. – Mas há algo que não se encaixa.
– É o que Lorenzo disse.
– Lorenzo pensa em termos de marca. Eu penso em termos de composição,– disse Luna. – Um golpista profissional que usa a identidade de uma das pessoas mais reconhecíveis do planeta? É uma composição grosseira. Amadora. Um golpista de verdade criaria uma identidade crível, porém discreta. Usar Li Wei é como usar a nota mais forte e cara do mundo – Oud – em uma colônia de verão. Atrai muita atenção. É ilógico.
As palavras dela, tão diferentes das de Lorenzo, mas levando à mesma conclusão, me atingiram com força. Eu estava tão cega pelo ódio e pela necessidade de vingança que não parei para analisar os fatos.
– Mas... Sofia tem as fotos. Ela falou com ele.
– Ela falou com alguém,– disse Luna, seus olhos escuros fixos nos meus. – Siena, você reagiu a um único ingrediente barulhento. Mas e o resto da fórmula? Qual era o nome falso que ele usava? De qual conta bancária o dinheiro foi enviado? Qual era o endereço de IP dele?
Eram perguntas que eu nunca tinha pensado em fazer. Perguntas que Sofia, em sua dor, certamente não investigou. Me senti ingênua em também não ter feito.
A chegada de Luna não me trouxe apenas conforto; trouxe objetividade. Uma clareza desconfortável que sugeria que a verdade poderia ser muito mais complicada do que a história de um simples vilão e uma heroína em busca de justiça. Talvez, apenas talvez, eu tivesse apontado minha fúria para o alvo errado. E a ideia de estar errada, depois de tudo, era quase tão aterrorizante quanto a de estar certa.