Li Wei

Siena Amoretti Dal saiu da suíte, mas sua presença permaneceu, pairando no ar como o fantasma de seu perfume e o zumbido da minha humilhação. Minha bochecha ainda ardia, um lembrete físico e latejante da violação. Eu, que era tocado apenas com reverência ou desejo roteirizado, havia sido agredido por uma completa estranha.

– Ela tem coragem, preciso admitir,– disse Lin, sua voz me tirando do meu torpor. Ela estava calma, já digitando em seu celular, tratando a situação não como um insulto pessoal, mas como um problema de logística. – Mas coragem, no nosso mundo, é apenas um sinônimo para imprudência.

– O que ela quis dizer com 'Sofia'?– perguntei, a pergunta que martelava em minha mente. – Ela me acusou de roubo.

Lin nem sequer levantou o olhar. – Detalhes irrelevantes. Alguma fã delirante, alguma golpista tentando usar seu nome. Acontece. O importante é que ela agora é uma ameaça controlada.

– Controlada?– retruquei, a raiva subindo novamente. – Ela me agrediu, Lin! E você a deixou ir embora com um simples acordo.

– Agressão gera um boletim de ocorrência. Um boletim de ocorrência gera imprensa. Imprensa gera um escândalo que não temos tempo para gerenciar,–  ela recitou, como se lesse um manual. – Ameaçar a carreira dela é mais limpo. Mais eficaz. Mas não é o suficiente.

Ela finalmente me olhou, e em seus olhos eu vi a estrategista implacável que transformou os negócios do nosso pai em um império global. – Ela é muito passional. Indomável. Pessoas assim não honram acordos quando se sentem injustiçadas. Ela é um risco para a sua imagem, e, portanto, um risco para os negócios. Precisamos neutralizá-la.

– Neutralizá-la? O que você vai fazer?

– Vou garantir que a apresentação dela seja um fracasso tão retumbante que ela não terá plataforma para dizer nem o próprio nome, quanto mais o seu,– disse Lin com uma frieza assustadora. – Vou ligar para algumas pessoas. A modelo principal que ela contratou? De repente, terá uma 'emergência familiar'. O influenciador de moda que ia cobrir o evento? Receberá um convite de última hora para um jantar exclusivo conosco. A imprensa de moda ouvirá rumores de que a coleção da Amoretti é... problemática. Pequenos cortes, Wei. A morte por mil cortes. Ninguém nunca saberá que fomos nós.

Um dilema moral se instalou em meu estômago. Era uma coisa me defender, mas destruir a carreira de uma mulher por causa de um mal-entendido? Mesmo que ela tivesse me agredido, isso parecia desproporcional. Cruel.

– Lin, isso é demais,– eu disse. – Ela estava apenas defendendo uma amiga.

– E eu estou defendendo você,– ela rebateu, a voz afiada. – E o império que te sustenta. Deixe isso comigo. Concentre-se em ser charmoso para as câmeras.–  Ela se virou para sair.  – Ah, e Wei,–  ela acrescentou, parando na porta. – Não pense mais naquela mulher. Ela não vale o seu tempo.

Mas enquanto a porta se fechava, eu não conseguia parar de pensar. No fogo em seus olhos castanho-esverdeados. Na acusação em sua voz. E, pela primeira vez, uma minúscula, traiçoeira semente de curiosidade brotou em meio ao meu ódio: quem diabos é Sofia?

Lorenzo

No dia seguinte, o caos começou. Siena me ligou, a voz beirando o pânico. Sua modelo principal, a estrela do desfile, havia cancelado. Pouco depois, outra ligação: o principal blogueiro de moda da Itália também não viria mais. Coincidências? No mundo da moda, não existem coincidências.

– É ela,– disse Siena ao telefone, a voz tensa. – Li Lin. Ela está fazendo isso.

– Eu sei,– respondi, meu sangue fervendo. – Fique calma, cugina. Deixe-me fazer algumas ligações.

Eu conhecia esse jogo sujo. Era um balé de poder e influência travado nos bastidores. Liguei para a agência da modelo. A desculpa da 'emergência familiar' era frágil. Pressionei um pouco, usei o nome da minha família, e a verdade veio à tona: a agência recebeu uma oferta de contrato de exclusividade de longo prazo com a Lusso – a mesma marca que Li Wei representava – com a condição de que a modelo não participasse do desfile da Amoretti. Era uma sabotagem clara, mas legalmente blindada.

Isso não era apenas negócio. Era uma declaração de guerra. E os Amoretti não fogem de uma guerra.

Encontrei Li Lin na área VIP de um dos desfiles principais. Ela estava conversando com um editor da Vogue, parecendo a rainha em sua corte. Esperei o editor se afastar e me aproximei.

– Signora Li,– comecei, com um sorriso que não chegava aos meus olhos.

Ela se virou, reconhecendo-me instantaneamente. – Lorenzo Amoretti. O orgulho da moda italiana. A que devo a honra?

– Gosto de pensar em mim mais como o protetor da minha família,–  respondi, meu tom baixando. – E minha família está sendo atacada.

Uma fagulha de interesse brilhou em seus olhos escuros. Ela gostava do confronto. – Não sei do que está falando.

– Sabe, sim. Cancelar modelos, pressionar a mídia... É um jogo ousado, mas um pouco óbvio, não acha? Especialmente vindo de alguém tão sofisticada.

Ela deu um passo à frente, diminuindo o espaço entre nós. O ar crepitou. Era uma batalha de vontades. – Sua prima é impulsiva e perigosa. Eu estou simplesmente... mitigando um risco.

– Minha prima é talentosa e apaixonada,– eu contrapus, a voz firme. – E você cometeu um erro. Você não a ameaçou em um vácuo. Você mexeu com a minha família. E em Milão, isso é um erro que custa caro.+

Um sorriso lento e enigmático se formou nos lábios dela. Ela não estava intimidada; estava intrigada. – Isso é uma ameaça, Signore Amoretti?

– É uma promessa,– eu disse, olhando-a diretamente nos olhos. – Você pode ter o dinheiro e o poder da China, mas eu tenho Milão. Desfaça o que você fez. Ou vou garantir pessoalmente que cada porta nesta cidade se feche para você. E farei isso com um sorriso no rosto.

A tensão entre nós era palpável, uma mistura estranha de hostilidade e um respeito relutante. Era como se dois predadores de topo tivessem acabado de se reconhecer.

Li Lin me estudou por um longo momento, e então, para minha surpresa, ela riu. Um som baixo, controlado.

– Você é mais interessante do que eu pensava, Lorenzo.

– Estou cheio de surpresas,– respondi. – Agora, sobre a minha prima...