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Capítulo 4: O Peso do Silêncio

Siena Dal

A caneta na minha mão parecia pesar uma tonelada. Cada fibra do meu ser gritava para que eu a jogasse no rosto de Li Lin, para que eu continuasse a lutar. Mas o olhar dela, frio e calculista, e a ameaça velada em suas palavras, eram como correntes de gelo ao redor dos meus pulsos. Ela não estava blefando. Ela destruiria tudo pelo que lutei, não por maldade, mas com a mesma eficiência desapaixonada com que se poda uma rosa para salvar o jardim.

Meu olhar se desviou para Li Wei. Ele permanecia em silêncio, observando a cena com uma intensidade contida. Agora, sob a luz dura da suíte, eu era forçada a registrar os detalhes que minha fúria inicial havia ignorado. Ele era, de uma forma quase irritante, perfeitamente construído. Não era apenas bonito; era como se um mestre escultor tivesse recebido a tarefa de criar a personificação da palavra "ídolo".

Seu rosto tinha a simetria impecável que as câmeras adoram – uma mandíbula forte, ossos da face altos e lábios que, mesmo cerrados em uma linha dura, tinham uma curva que sugeria uma generosidade que sua atitude desmentia. Seus olhos eram o que mais prendiam: escuros, profundos e emoldurados por cílios espessos. Eram olhos que podiam conter galáxias de emoção em um filme, mas que agora estavam vazios, frios como obsidiana. Seu cabelo preto, que antes parecia artisticamente desgrenhado, agora parecia apenas caro. Ele era a imagem do poder e da perfeição inatingível, e isso só tornava seu suposto crime ainda mais hediondo. Ele tinha o mundo, e ainda assim roubou o pouco que Sofia tinha.

A marca vermelha do meu tapa em sua bochecha era a única imperfeição, a única prova de que ele era feito de carne e osso. E, ao invés de me dar satisfação, a visão me encheu de um pavor gelado. Eu havia marcado um deus, e agora seus guardiões exigiriam um sacrifício.

Com a mão tremendo, inclinei-me e assinei meu nome no tablet. Siena Amoretti Dal. A assinatura pareceu uma sentença.

– Uma escolha sábia,– disse Li Lin, com um tom de finalidade. Ela fez um gesto para os seguranças, que se afastaram da porta. O caminho estava livre. Eu estava dispensada.

Sem dizer uma palavra, virei-me e saí, sentindo os olhos de Li Wei queimando em minhas costas. Cada passo para longe daquela suíte era um passo para dentro de uma gaiola de silêncio que eu mesma havia concordado em trancar.

O caminho de volta para o meu quarto foi a caminhada da vergonha. O corredor parecia se estender por quilômetros. Quando finalmente abri a porta, encontrei Sofia andando de um lado para o outro, o rosto pálido de preocupação.

– Siena! O que aconteceu? Eu vi os seguranças, eu...– ela parou ao ver meu rosto.

Eu não precisei dizer nada. Minha derrota estava estampada em cada linha do meu corpo.

– Ele vai pagar pelo que fez,– eu disse, as palavras soando ocas e falsas até para mim.

Os olhos de Sofia se encheram de esperança. – Você... você falou com ele? Ele confessou?

E ali estava. O momento da traição. Não a traição dele, mas a minha. Eu tinha que mentir para ela. O acordo que assinei me amordaçava. Dizer a verdade – que eu fui ameaçada e me acovardei, que o homem que a destruiu sairia impune – quebraria o que restava do espírito dela. E quebraria algo em mim também.

– Ainda não,– menti, desviando o olhar. – Mas eu deixei claro que sei o que ele fez. A irmã dele estava lá. Eles estão assustados. Vão tentar abafar o caso.

– Então... o que fazemos?– ela perguntou, a voz um fio de esperança.

– Por enquanto, nada,– eu disse, a mentira se tornando mais fácil, mais venenosa. – Temos que ser inteligentes. Eles são poderosos. Se agirmos agora, eles vão nos esmagar. Preciso focar na minha apresentação. Depois disso, com a atenção da mídia sobre mim, teremos mais poder para expô-lo.

Era um plano fraco, construído sobre areia movediça, mas Sofia se agarrou a ele. Ela queria acreditar. E eu precisava que ela acreditasse, para não ver a covarde em que eu havia me transformado.

Ela me abraçou, um abraço de gratidão e alívio. – Eu sabia que podia contar com você. Você é a pessoa mais forte que eu conheço.

As palavras dela foram como facas no meu peito. Fechei os olhos, o abraço dela parecendo uma queimadura. Eu não era forte. Eu tinha acabado de ser domada. E enquanto eu prometia a ela uma vingança que eu não sabia como cumprir, o sentimento avassalador não era de ódio por Li Wei, mas de desprezo por mim mesma.

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