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Capítulo 5: Refúgio em Território Familiar

Siena Dal

Voltar para o meu quarto de hotel foi como entrar em uma jaula. O ar, antes carregado com a promessa de Milão, agora parecia pesado e sufocante. Sofia, exausta pela montanha-russa emocional, finalmente adormeceu, sua respiração suave um contraste gritante com a tempestade dentro de mim.

Eu me sentia suja. A mentira que contei a ela era uma mancha na minha consciência, mais permanente que qualquer marca que minha mão deixou no rosto de Li Wei. Andei até a janela, olhando para as luzes da cidade sem realmente vê-las. Eu precisava de ar. Precisava de alguém com quem pudesse ser honesta, ou pelo menos, alguém que pudesse me distrair da minha própria covardia.

Peguei o celular. Havia apenas uma pessoa em Milão a quem eu poderia recorrer.

– Sei que é tarde 'cugino'. Preciso de um café forte e de um rosto amigo. SOS.

A resposta foi quase imediata.

– Estou a caminho. Levo o café, você providencia o drama. Ti aspetto, cugina

Um pequeno sorriso, o primeiro em horas, tocou meus lábios. Lorenzo.

Vinte minutos depois, uma batida suave soou na porta. Abri e lá estava ele, encostado no batente como se estivesse posando para a capa da Vogue Italia. Lorenzo era classicamente bonito, com o cabelo escuro perfeitamente penteado, olhos castanhos inteligentes e um maxilar que parecia ter sido esculpido em mármore de Carrara. Ele usava um suéter de caxemira e calças impecáveis, segurando dois copos de papel da 'Caffè Amoretti'.

Ele entrou, seus olhos passando pela suíte e pousando por um segundo na figura adormecida de Sofia antes de encontrar os meus com uma pergunta silenciosa. Guiei-o para a pequena varanda, fechando a porta de vidro atrás de nós para não acordá-la. Guiei-o para a pequena varanda, fechando a porta de vidro atrás de nós para não acordá-la.

Obrigada por vir, eu disse, tomando um gole do café. Era forte, amargo, exatamente o que eu precisava.

Siena, ele começou, apoiando-se na grade e me estudando com um olhar que via mais do que eu gostaria. Eu te conheço desde que você era uma pirralha que colocava areia no meu macarrão na praia. O que aconteceu? E não me diga 'nada'. Esse 'nada' está estampado no seu rosto.

Eu hesitei. O acordo de confidencialidade era uma mordaça. Mas Lorenzo não era qualquer um. Ele era família.

–  Eu fiz algo estúpido, Enzo. Algo incrivelmente estúpido.

–  Isso não é novidade, ele brincou, mas seu tom era gentil. Elabore.

Respirei fundo o ar frio da noite milanesa. Você conhece o ator, Li Wei?

Lorenzo ergueu uma sobrancelha. –  Quem não conhece? Ele é o embaixador da Lusso. Vi o rosto dele em um outdoor do tamanho de um prédio hoje. Por quê? Ele criticou suas joias? Devo organizar um boicote fashion?

–  Pior,–  murmurei. Eu bati nele.

Lorenzo engasgou com o café, seus olhos se arregalando em uma mistura de choque e admiração mal disfarçada. –  Tu... cosa? Você bateu em Li Wei? O Li Wei?–  Ele me olhou de cima a baixo. –  Mia cugina selvatica, você se superou.

–  Não tem graça, Enzo. A irmã dele me fez assinar um acordo de confidencialidade. Ameaçou arruinar minha apresentação. Arruinar tudo.

A diversão desapareceu do rosto de Lorenzo, substituída por uma seriedade protetora. Ok. Por que você bateria no homem mais fotografado da Ásia? Ele mereceu, presumo.

Contei a ele. Sobre Sofia, o golpe, a foto, a minha fúria cega. Deixei de fora a mentira que contei a ela depois, a vergonha era grande demais para admitir em voz alta.

Ele ouviu em silêncio, seu rosto se tornando uma máscara pensativa. É uma história horrível, ele disse finalmente. Mas... não parece o estilo dele.

O que você quer dizer?

Li Wei, Lorenzo ponderou, olhando para o horizonte. Ele é o garoto de ouro. Sua imagem é controlada com precisão militar. Arriscar um escândalo internacional por... alguns milhares de euros? É confuso. Não se encaixa na marca. É como se a Ferrari lançasse um cortador de grama. Simplesmente não faz sentido, vamos ter que investigar melhor.

Suas palavras, ditas com a lógica de quem entende o mundo da imagem e da marca, plantaram a primeira, semente de dúvida em minha mente. Eu a enterrei imediatamente.

Ele é um ator, Enzo. A vida dele é fingir.

Talvez, ele concedeu, sabiamente não pressionando. Ele me conhecia bem o suficiente para saber quando recuar. Mas a irmã dele, Li Lin, não é atriz. Ela é um tubarão. Se ela te encurralou, tome cuidado, Siena. Tubarões sentem o cheiro de sangue na água. E agora, você está sangrando.

Ele colocou a mão no meu ombro, um gesto de companheirismo e apoio. Amanhã, você vai se concentrar no seu desfile. Crie a sua magia, mostre a eles quem é Siena Amoretti Dal. Deixe que eu mantenho meus ouvidos abertos. O mundo da moda é menor do que parece. E muito mais fofoqueiro.

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