O intervalo trouxe o calor do sol tímido batendo nos jardins da Averly, mas meus pensamentos estavam longe dali. Só conseguia lembrar do olhar de Arthur durante a apresentação e como meu coração descompassava a cada gesto ou sorriso dele. Havia algo nele que me desconcertava, uma presença que atravessava a sala e parecia me encontrar onde eu estivesse.
Lara, sempre atenta, percebeu meu olhar distante. — Isa… olha quem vem aí — sussurrou, com um sorriso cúmplice. Arthur caminhava em minha direção, passos firmes, postura confiante. Seus olhos buscaram os meus de um jeito que fez meu coração disparar. Ele não apenas olhou; parecia tentar me compreender, me reconhecer. — Posso sentar com você? — perguntou, suave, mas direto. Assenti, sem conseguir falar. Ele se acomodou ao meu lado, e senti a proximidade do corpo dele, o calor que isso provocava, fazendo meu estômago se contorcer de um jeito novo. — Como está se adaptando? — perguntou, desviando o olhar por um instante antes de voltar para mim. — Difícil… mas fascinante também — respondi. — Ontem, com o debate, me senti… vista. De verdade. Ele sorriu, aquele sorriso que parecia guardar segredos. — Fico feliz. Você merece ser ouvida. O silêncio caiu, confortável. Não era constrangedor; era como se o mundo tivesse diminuído ao nosso redor. O vento passava frio, apesar do sol tímido, mas algo na presença dele fazia eu esquecer o frio. — Trouxe algo para você — disse de repente, abrindo a mochila. Tirou um livro sobre Sociologia, que complementava nosso trabalho. — Achei que poderia te interessar. Peguei o livro, e por um instante nossas mãos se tocaram. Um choque silencioso percorreu meu corpo. Ele não recuou, apenas manteve o contato o tempo suficiente para que eu sentisse algo que ia além da admiração pelo trabalho. — Isso é… muita gentileza — murmurei, corando. — Obrigada. — Você merece, Isa — respondeu, mantendo o olhar fixo nos meus olhos. — Você escreve com sinceridade. É raro ver alguém se expressar assim. — Uau, esse livro é incrível — interagiu, Lara. Nos dias seguintes, pequenos gestos se tornaram rotina: um toque discreto no braço nos corredores, olhares que duravam mais que o normal, sorrisos que pareciam trocar mensagens silenciosas. Durante uma aula de laboratório, ele se aproximou para me ajudar com um experimento. — Segura assim… — disse, guiando minhas mãos. — Mais firme, mas com cuidado. O calor dele atravessava minha pele, a eletricidade de um toque que deveria ser apenas técnico me deixou sem fôlego. Não era só a tarefa; era ele, o cheiro, a atenção, a forma como me fazia sentir vista e vulnerável ao mesmo tempo. A aula acabou, mas eu não queria que ele terminasse. A tensão silenciosa e envolvente deixava meu corpo ansioso, e eu sabia, mesmo sem dizer nada, que algo entre nós estava mudando — e que nada mais seria igual. Logo que Arthur retornou ao seu lugar, Lara, percebendo a cena, se aproximou de mim. — Isa, você percebe o que está acontecendo, né? — disse, meio provocativa. — Vocês dois não estão só estudando juntos… tem química aí. Suspirei, corando. — Lara, não… ele é o herdeiro de uma multinacional. Ele nunca iria… — Ah, para com isso! — interrompeu, rindo. — Ele olha pra você diferente. E vou provar que você não vai passar o semestre todo imaginando isso sem contexto. Ela se aproximou de Arthur, e falou casual: — Este final de semana vou dar uma festa, algo intimista, só para amigos próximos. Arthur, você vem? — falou como se fosse natural. — Isa, claro que você vem, né? Vai ser uma chance de se soltar, conhecer melhor o pessoal… e, quem sabe, se divertir um pouco. Arthur sorriu, sem titubear. — Sim, me passa o endereço. Estarei lá. Ele então se levantou, cumprimentou outros colegas e se afastou, e eu fiquei ali, tentando processar o que acabara de acontecer. Aquele simples convite era um mundo novo — uma oportunidade de estar mais perto dele, de quebrar a barreira que parecia existir entre nossos mundos. — Lara… e eu? — perguntei, nervosa. — Como eu chego lá? Com que roupa? — Relaxa! — respondeu, rindo. — Você vai se divertir. Eu cuido de tudo. Agora é só você decidir se vai deixar o semáforo vermelho do seu coração abrir espaço para o verde. E, por um momento, percebi que talvez aquele universo que antes me intimidava pudesse ter uma chance de se tornar um lugar onde eu poderia existir — e talvez até amar.