A festa de Lara não tinha nada a ver com o que eu conhecia ou já havia presenciado. A casa brilhava com luzes suaves, música de fundo e risadas preenchendo cada canto. Havia um ar de sofisticação discreta, sem ostentação exagerada — perfeito para um encontro de amigos próximos. Meu coração acelerava a cada passo que me aproximava da área da piscina.
Arthur já estava lá quando cheguei. Ele me viu de longe, sorriu, e aquele simples gesto fez meu corpo reagir antes mesmo de minha mente processar. Lara correu para me receber e me apresentou rapidamente a alguns colegas, mas minha atenção estava fixa nele. — Você veio! — disse ele, aproximando-se com aquele sorriso calmo que parecia iluminar tudo ao redor. — Claro… não ia perder — respondi, tentando parecer natural, mas minhas mãos estavam geladas. — Quantos ônibus você precisou para chegar aqui, Isa? — debochou Gabriel. — Pelo estado em que chegou, deve ter sido alguns — assentiu Bruna. Maria Fernanda Ferreira, filha de uma grande influenciadora bilionária, estava próxima, rindo com desdém. Lara já havia me alertado: no ano passado, Maria Fernanda tinha tido um breve relacionamento com Arthur. Eu apenas respirei fundo e mantive silêncio. Arthur mudou de assunto, e consegui me afastar, procurando um lugar tranquilo. Me sentei no jardim, longe do burburinho, tentando respirar. O perfume diferente que se aproximava me fez olhar, e lá estava Arthur, com uma bebida em mãos, encontrando qualquer desculpa para se aproximar. O ar fresco da noite misturava-se ao perfume dele, e senti meu coração bater descompassado. — Vi que você estava aqui sozinha. Não se preocupe com os outros, eles não sabem brincar — disse ele com um sorriso discreto. — Está tudo bem — respondi, com a voz trêmula. — Eu realmente precisei de muitos ônibus para chegar até aqui. Talvez tenha ficado visível quando cheguei. — Isso não te deixou menos linda — disse ele baixinho, quase um sussurro ao meu ouvido. — Obrigada — murmurei, corando. Ele se aproximou mais, e por alguns segundos nossas mãos se tocaram sem percebermos. Um choque silencioso percorreu meu corpo. Não era apenas a proximidade; era a sensação de finalmente ser vista de verdade. — Sabe… — ele começou, hesitando levemente — eu nunca vi alguém da sua idade tão determinada. E tão verdadeira. É… diferente. Senti minhas bochechas queimarem. Diferente. Ele não disse “bolsista” ou “menina simples”. Apenas… diferente. E isso me deixou vulnerável e estranhamente leve. Lara surgiu de repente, rindo: — Olha só quem se escondeu no jardim! Graças a Deus te encontrei, Isa. Arthur riu, mantendo o olhar em mim. — Eu a encontrei primeiro, Lara — respondeu, simples. — Vamos jogar Beerpong, vocês não veem? — disse, saltitante. — Bem, nós… — Eu tentei falar. — Já vamos — completou Arthur, sorrindo. — Vamos esperar vocês — disse Lara, afastando-se. Quando restamos apenas nós dois, o silêncio caiu, confortável, mas carregado de expectativa. Ele deu um passo mais perto. Eu quase não respirei. — Isa… — disse, baixo, intenso — você tem ideia do quanto me surpreende? — Eu… — tentei responder, mas minha voz falhou. Ele sorriu levemente, inclinando-se mais perto, e senti o calor dele, o perfume, a presença. Um sussurro quase tocando meu ouvido. — Eu gosto de estar perto de você — disse, e meu coração pareceu parar por um instante. O mundo ao redor desapareceu. A festa, a música, os outros convidados — tudo sumiu. Só existia ele, seus olhos que me seguravam, a proximidade que me deixava vulnerável e segura ao mesmo tempo. Ele se aproximou suavemente, segurou meu rosto com cuidado e nossos lábios se tocaram pela primeira vez. Um beijo doce, carregado de vontade. Coloquei minha mão em sua nuca, e ele me puxou pela cintura, aproximando-nos ainda mais. Entre risos distantes, música suave e o perfume do jardim, percebi que algo havia mudado para sempre. A barreira entre nossos mundos parecia inexistente naquele instante, e a faísca entre nós era inevitável.