A ordem de Don Costello pesava sobre Leonardo como uma mortalha. Conseguir as plantas detalhadas do sistema de segurança do Banco Rossi & Filhos era uma tarefa monumental, um mergulho em águas infestadas de tubarões, onde o menor erro significaria o fim. Mas, em meio ao turbilhão de perigo e à repulsa moral que a missão lhe causava – especialmente com a imagem de Sabrina Rossi assombrando seus pensamentos – uma centelha de algo mais se acendia: a oportunidade. Aquelas plantas não serviriam apenas aos propósitos da famiglia; poderiam ser a chave para os segredos que ele viera desenterrar, o catalisador para o acerto de contas com seu próprio passado nebuloso.
Passou as 48 horas seguintes numa reclusão quase monástica, o pequeno apartamento na lavanderia transformado num centro de comando improvisado. Mapas da cidade, horários anotados, fotografias discretas tiradas durante suas observações e diagramas de sistemas de segurança genéricos cobriam a mesa modesta. Ele não podia simplesmente invadir o banco; precisava de uma estratégia elegante, precisa, quase invisível. A porta de serviço era um ponto de entrada potencial, mas para alcançar os projetos arquitetônicos e de segurança, ele precisaria penetrar mais fundo, provavelmente no departamento de engenharia ou na sala de servidores – áreas com múltiplas camadas de proteção.
Seu plano começou a tomar forma, complexo e arriscado. Envolvia explorar a rotina da empresa de catering, mas não para uma entrada direta e estabanada. Ele precisava de uma distração, uma janela de oportunidade, e, mais crucialmente, de acesso digital.
Na manhã do terceiro dia, Leonardo procurou Tulio. Encontraram-se num velho armazém perto das docas, o cheiro de peixe e maresia impregnando o ar. "Preciso de algumas coisas," Leonardo disse, a voz calma, contrastando com a urgência que fervia em seu interior. "Um dispositivo de clonagem de crachás de acesso, o mais sofisticado que tiverem. E informações sobre o chefe de segurança do banco, um tal de Arthur Guedes. Rotinas, hábitos, qualquer coisa." Ele também solicitou um veículo discreto, não rastreável, e uma pequena quantia em dinheiro para despesas "operacionais".
Tulio ouviu em silêncio, os olhos escuros e indecifráveis fixos em Leonardo. "O Don espera resultados, não pedidos de compras," ele disse, a voz baixa, mas com um fio de aço. "Cada item que você solicita aumenta o risco para a famiglia." "Entendo os riscos," Leonardo respondeu, impassível. "Mas sem as ferramentas certas, até o melhor artesão falha. E o Don não me parece um homem que aprecia falhas." Um brilho quase imperceptível de respeito relutante passou pelos olhos de Tulio. "Conseguirei o que precisa. Mas saiba, Leonardo, que meus olhos, e os do Don, estarão em cada passo seu. Não há margem para erros."
Com os recursos em mãos – um clonador de cartões de última geração, um dossiê surpreendentemente detalhado sobre Arthur Guedes, e um carro "limpo" – Leonardo intensificou sua vigilância, desta vez com um foco mais específico. Guedes, o chefe de segurança, era um ex-militar metódico, quase paranoico. Entrar em seu escritório ou em seus arquivos digitais diretamente seria quase impossível.
Contudo, o dossiê revelou um detalhe interessante: Guedes tinha uma assistente pessoal, uma jovem chamada Clara, que, segundo as fontes de Tulio, era ambiciosa e talvez um pouco descuidada com protocolos em nome da eficiência. Clara frequentemente almoçava num pequeno bistrô perto do banco. Era uma aposta arriscada, mas a engenharia social, a manipulação sutil, poderia ser sua melhor chance de obter um crachá de acesso de nível intermediário, o suficiente para se aproximar das plantas.
Enquanto Leonardo tecia sua teia, Sabrina Rossi, alheia ao perigo que rondava sua família, dedicava-se com fervor renovado à sua fundação. Com o orçamento do programa de reforço escolar garantido, ela passava mais tempo no banco, não apenas para reuniões formais, mas para tentar sensibilizar outros diretores e funcionários para as causas sociais. Numa dessas visitas, ao sair do elevador no andar da presidência, ela quase esbarrou num homem de terno escuro, rosto sério, que parecia analisar um ponto qualquer no corredor com uma intensidade incomum. Seus olhares se cruzaram por uma fração de segundo. Leonardo, que estava fazendo um reconhecimento interno rápido, disfarçado como um técnico de manutenção de uma empresa terceirizada (um crachá temporário obtido graças a uma "falha" administrativa que ele mesmo induzira com informações prévias), sentiu o impacto daquele olhar como um choque elétrico.
Os olhos cor de mel dela, curiosos por um instante, não o reconheceram sob o disfarce e a tensão do momento. Mas para Leonardo, aquele quase encontro foi um lembrete brutal da proximidade do abismo. Ele se virou rapidamente, o coração martelando contra as costelas, e desapareceu por uma porta de serviço, a adrenalina e um sentimento indesejado de pânico percorrendo suas veias. Ver Sabrina ali, tão perto, enquanto ele estava no meio de uma infiltração, tornava tudo perigosamente real, a linha entre seus dois mundos quase se desfazendo.
No dia seguinte, Leonardo colocou em ação a parte mais delicada de seu plano. Usando o disfarce de um novo funcionário de uma empresa de consultoria que, coincidentemente, tinha uma reunião agendada no banco (informação obtida do lixo digital de um funcionário descuidado), ele frequentou o mesmo bistrô que Clara, a assistente de Guedes. Um "encontro casual", uma conversa sobre as dificuldades de se adaptar a um novo emprego na cidade, um charme discreto e calculado. Ele não mencionou o banco, nem seu suposto trabalho. Apenas plantou uma semente de familiaridade.
O verdadeiro movimento veio dois dias depois. No momento em que Clara estava mais distraída durante o almoço, falando ao celular sobre um problema pessoal, Leonardo, sentado numa mesa próxima, usou um breve momento de oportunidade. Um esbarrão "acidental", um pedido de desculpas profuso, e o clonador de cartões, pequeno e discreto em sua mão, fez seu trabalho em menos de três segundos, capturando os dados do crachá de Clara que estava em sua bolsa entreaberta. Foi arriscado, quase imprudente, mas a janela de oportunidade era fugaz.
Naquela noite, a tensão no apartamento de Leonardo era quase palpável. Ele tinha os dados. Agora, precisava do momento certo para usá-los. O plano era entrar após o horário de expediente, usando o crachá clonado de Clara, que lhe daria acesso a certas áreas administrativas, incluindo, ele esperava, a sala de arquivamento de projetos ou um terminal com acesso à rede interna.
Esperou até as duas da manhã, quando a cidade estava mergulhada no silêncio e a vigilância no banco, embora presente, estaria menos alerta para movimentos internos "autorizados". Vestido com um macacão escuro, sem insígnias, ele se aproximou da entrada de funcionários, o coração batendo um ritmo controlado, fruto de anos de disciplina autoimposta.
O crachá clonado passou no primeiro leitor. Luz verde. Alívio. Ele caminhou pelos corredores silenciosos e pouco iluminados, cada passo ecoando em seus ouvidos como um trovão. O ar condicionado central zumbia, um som constante que mascarava os ruídos menores. Ele conhecia a planta baixa daquele andar de cor, graças aos seus dias de observação e a alguns esquemas básicos que conseguira obter.
Chegou à porta do departamento de engenharia e manutenção, onde os projetos provavelmente estariam armazenados ou seriam acessíveis digitalmente. Passou o cartão. Luz verde novamente. Ele estava dentro.
A sala estava escura. Usando uma pequena lanterna, ele localizou o arquivo principal de projetos físicos e, mais importante, um terminal de computador que parecia ter acesso privilegiado. O mais difícil ainda estava por vir: acessar os arquivos digitais, que certamente estariam protegidos por senhas.
Mas, enquanto começava a trabalhar no terminal, usando um dispositivo USB com um software que ele mesmo desenvolvera para tentar quebrar as senhas mais comuns ou explorar vulnerabilidades conhecidas, um som o fez congelar.
Passos. Lentos, mas firmes, vindo pelo corredor.
Não eram os passos da ronda regular; o horário não batia. Alguém estava ali, fora do previsto. Leonardo apagou a lanterna, mergulhando na escuridão total, o corpo tenso, cada músculo pronto para reagir. O som dos passos se aproximava, parando do lado de fora da porta do departamento.
A maçaneta girou.