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5. Cicatrizes visíveis , guerras invisíveis

O asfalto frio da rua deserta foi um consolo cruel para Sabrina após a violência do roubo. Os dois homens desapareceram tão rapidamente quanto surgiram, levando consigo a caixa de sapatos com as provas de Helena Ribeiro e deixando para trás uma Sabrina trêmula, o braço latejando onde fora agarrada com força, a bochecha ardendo de um tapa dissimulado que um deles lhe dera como "aviso final". Mas, por baixo do medo e da humilhação, uma fúria gelada começava a borbulhar. Eles a haviam tocado. Haviam cruzado uma linha. E ela não recuaria.

Com dificuldade, ela se recompôs, as lágrimas de raiva e impotência secando em seu rosto. Não podia ir para casa naquele estado; seu pai teria um colapso e a trancaria numa torre. Seu único refúgio, sua única aliada naquele momento, era Beatriz.

Enquanto isso, num quarto anônimo alugado na parte mais impessoal da cidade, Leonardo estava imerso numa guerra invisível. Cercado por equipamentos eletrônicos improvisados, a tela de seu laptop refletindo em seus olhos azuis e concentrados, ele navegava pelas entranhas digitais da "Seguritech", a empresa terceirizada que fornecia software de segurança para o Banco Rossi. Era uma fortaleza digital menor, mas ainda assim um desafio. Ele precisava de um acesso root aos servidores deles, uma brecha que lhe permitisse plantar um backdoor sutil, um cavalo de Troia que, no momento certo, lhe daria acesso privilegiado à rede interna do banco.

Cada linha de código que ele digitava, cada firewall que testava, era um passo em território inimigo. A contrainteligência digital da Seguritech era boa; ele sentia os rastreadores, os honeypots, as armadilhas deixadas para hackers menos experientes. Mas Leonardo não era um hacker comum. Ele pensava como seus alvos, antecipava seus movimentos, usava suas próprias defesas contra eles. O suor escorria por sua testa, não pelo calor do quarto abafado, mas pela tensão daquela dança perigosa no fio da navalha. Um erro, um único passo em falso, e alarmes silenciosos soariam, não apenas na Seguritech, mas, potencialmente, nos ouvidos atentos de Don Costello, que esperava resultados, não desculpas.

Sabrina chegou ao apartamento de Beatriz como um animal ferido buscando abrigo. A amiga hacker, ao ver o estado dela – o rosto marcado, os olhos brilhando com uma mistura de pavor e fúria –, não precisou de muitas explicações. "Aqueles desgraçados!" Beatriz sibilou, enquanto cuidava dos arranhões no braço de Sabrina. "Bastos. Tem que ser ele. Ou os capangas da Progresso. Eles estão jogando sujo, muito sujo." "Eles levaram tudo, Bia," Sabrina disse, a voz rouca. "Todas as cópias que Helena me deu. E me ameaçaram. Disseram que da próxima vez não seria apenas uma caixa que eu perderia." "Eles te machucaram?" Beatriz perguntou, a preocupação genuína em sua voz. Sabrina tocou a bochecha dolorida. "Nada que não se cure. Mas a raiva, Bia… a raiva que estou sentindo… isso não vai passar tão cedo." Seus olhos brilhavam com uma nova e perigosa determinação. "Eles acham que podem me intimidar, me calar. Mas só conseguiram me dar mais certeza de que estou no caminho certo. Precisamos expor esses criminosos."

Beatriz ponderou. "Com a caixa de Helena perdida, ficamos sem provas físicas diretas. E você agora é um alvo claro, S. Precisamos ser mais espertas, mais sutis." Seus dedos já voavam sobre o teclado de seu próprio laptop. "Se não podemos usar as provas que tinham, vamos encontrar novas. Ou vamos usar a tecnologia para lutar contra eles no terreno deles." A ideia de uma contraofensiva digital começou a tomar forma. "Bastos e a Progresso podem ter roubado os papéis, mas e se os arquivos originais ainda existirem nos servidores deles? Ou se conseguirmos plantar algo que os exponha de dentro para fora?"

No quarto alugado, Leonardo finalmente encontrou a brecha que procurava. Uma falha de segurança num protocolo de atualização antigo da Seguritech, uma porta dos fundos esquecida pelos administradores de sistema. Com a perícia de um cirurgião, ele explorou a vulnerabilidade, contornando as defesas, e conseguiu acesso privilegiado. O coração batia forte contra suas costelas. Estava dentro. Agora, começava a fase mais delicada: plantar seu código, criar o acesso remoto à rede do Banco Rossi, tudo sem deixar rastros, sem acionar os sistemas de detecção de intrusão mais sofisticados que o próprio banco certamente possuía. Cada segundo era crucial. Ele sabia que Don Costello estava ficando impaciente. E Rocco, com sua desconfiança crônica, poderia aparecer a qualquer momento para "supervisionar" o progresso.

A pressão era imensa, mas Leonardo trabalhava com uma concentração absoluta, seus dedos dançando sobre o teclado, os olhos fixos nas linhas de código que se desdobravam na tela. Ali, naquele quarto anônimo, ele era o maestro de uma orquestra silenciosa de dados e algoritmos, preparando o terreno para o golpe que abalaria as estruturas da cidade.

Enquanto Leonardo avançava em seu plano perigoso, Sabrina, com a ajuda de Beatriz, traçava sua própria estratégia de guerrilha. A ideia de invadir fisicamente os escritórios da Progresso Empreendimentos em busca de provas era suicida. Mas Beatriz tinha outra ideia. "Dr. Arnaldo Bastos," Beatriz disse, mostrando a foto do executivo engomadinho na tela. "Ele é o elo fraco. Vaidoso, arrogante, e provavelmente descuidado com sua segurança digital pessoal, se estivermos com sorte. E ele tem um evento importante esta noite: um coquetel de lançamento de mais um de seus projetos 'inovadores' num hotel de luxo." Sabrina franziu a testa. "E o que faremos? Um protesto no coquetel?" Beatriz sorriu, um brilho travesso nos olhos. "Algo mais… sutil. E mais eficaz. Preciso que você chegue perto dele, S. Perto o suficiente para 'acidentalmente' esbarrar nele. E preciso que você esteja usando isto." Ela mostrou a Sabrina um pequeno dispositivo, quase invisível, disfarçado de um elegante pingente de colar. "É um capturador de dados Wi-Fi e Bluetooth de curto alcance. Se o celular ou o tablet dele estiverem com as conexões abertas, e se conseguirmos alguns segundos próximos, posso tentar uma invasão rápida, buscar por arquivos, e-mails, qualquer coisa comprometedora."

O plano era arriscado, audacioso. Exigiria que Sabrina entrasse num ambiente hostil, se aproximasse de um homem que ela sabia ser perigoso, e executasse uma manobra técnica sob pressão. E tudo isso burlando a vigilância de seu pai. "Eu não sei, Bia…" Sabrina hesitou. "E se algo der errado?" "Nós teremos um plano B. E um C," Beatriz assegurou. "Mas você precisa decidir, S. Quer ficar na defensiva, esperando o próximo ataque deles? Ou quer levar a luta até eles?"

Sabrina olhou para o reflexo de seu rosto machucado num espelho. A marca da violência de Bastos ainda estava ali, um lembrete constante. Mas também havia uma nova dureza em seu olhar, uma resiliência forjada no fogo. "Eu vou," ela disse, a voz firme. "Eles não vão me calar."

Naquela noite, enquanto Sabrina se preparava para sua própria missão perigosa, disfarçada e com o coração aos pulos, Leonardo, em seu quarto escuro, finalmente conseguiu. O backdoor para a rede do Banco Rossi estava implantado, invisível, aguardando seu comando. Uma pequena parte das plantas da arquitetura de rede e dos sistemas de segurança primários já estava sendo baixada lentamente para seu servidor criptografado. Ele ainda não tinha as plantas completas do edifício, nem os segredos do cofre principal, mas dera o primeiro e mais crucial passo. Estava exausto, mas uma satisfação sombria o preenchia. Ele provara, mais uma vez, seu valor.

Mas, ao desconectar-se, uma sensação incômoda o invadiu. Um leve indício de que sua intrusão, por mais sutil que fosse, talvez não tivesse passado completamente despercebida. Um log de acesso anômalo, um alarme silencioso de baixo nível que apenas os administradores de sistema mais paranoicos notariam. Era um risco calculado, ele sabia. Mas, no mundo em que vivia, mesmo os menores riscos poderiam ter consequências catastróficas.

Enquanto Leonardo desligava seus equipamentos, sentindo o peso do cansaço e da tensão, seu celular descartável vibrou. Uma mensagem de Tulio. Curta e direta: "O Don quer um relatório de progresso. Amanhã, ao amanhecer. E ele não parece estar com seu humor mais paciente."

Ao mesmo tempo, Sabrina, elegante e nervosa em seu vestido de festa, com o pingente-gravador de Beatriz em seu pescoço, entrava no salão luxuoso do hotel, os olhos procurando por Arnaldo Bastos em meio à multidão de endinheirados e poderosos. Seu pai, Lorenzo Rossi, que por uma infeliz coincidência também fora convidado para o evento e a vira sair de casa "para encontrar umas amigas", observava-a da outra extremidade do salão com uma expressão que misturava surpresa, desconfiança e uma fúria crescente. A colisão era iminente.

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