O e-mail chegou em uma noite silenciosa, sem alarde, entre boletins médicos e notificações de farmácia. O remetente era discreto, o assunto ainda mais: “Você tem o direito de contar a sua história.”
Luna leu e releu aquelas palavras enquanto a chaleira apitava na cozinha da casa da avó. Estava em Minas há semanas, e aquele lugar — de janelas largas, cheiro de eucalipto e chão de madeira — se tornara seu refúgio, sua trincheira contra o mundo. Nos primeiros dias, o silêncio a engolia. Depois, começou a fazer parte dela.
Mas o silêncio também cobra.
O jornalista chamava-se Rafael Assunção. Não fazia parte das grandes redes, nem tinha um milhão de seguidores. Era um rosto quase anônimo, com uma proposta diferente: “uma série documental sobre mulheres canceladas injustamente pela imprensa tradicional.”
No início, Luna hesitou. Já tinham dito tudo sobre ela: que era interesseira, oportunista, que se aproveitara da vulnerabilidade de Caio. Que o manipulava emocionalmente desde a reabilitaçã