Leonart Moreau

O salão era dourado demais para o meu gosto. Lustres enormes pendiam do teto como cascatas de ouro, refletindo a luz de cristais que mais pareciam tentar ofuscar a frieza dos olhares e a superficialidade dos sorrisos. Todos se cumprimentavam com formalidades ensaiadas, mas eu sabia a verdade por trás de cada gesto: cada aperto de mão, cada sorriso, cada olhar rápido por cima do ombro carregava interesse. Ali, todos queriam um trono invisível, um poder velado que as nossas famílias ostentavam sem esforço. E nós — Elena e eu — éramos os peões mais bem vestidos no centro desse tabuleiro.

Elena estava ao meu lado, impecável, como sempre. O vestido dela era uma obra-prima de sobriedade e elegância, claro, feito sob medida. Combinava com a gravata que minha mãe escolheu para mim. Sim, minha mãe — porque, como sempre, minha opinião nunca fora considerada. E pensei que Elena passasse pelo mesmo. A ideia nos aproximava silenciosamente.

— Essa música parece funeral — murmurei, i