Capítulo.04

Elena Vasquez D'Amato

A porta do salão da mansão se abriu lentamente, revelando a passarela decorada com pétalas de rosas brancas e vermelhas. Tudo parecia ter saído de um devaneio luxuoso. Músicos tocavam suavemente ao fundo, e os olhares se voltaram para mim. Todos me observavam.

Mas só um olhar importava.

Leonhart Moreau.

Ele estava ali, parado no altar, vestindo um terno preto impecável, com a gravata perfeitamente alinhada, os cabelos escuros penteados para trás e aquele olhar cinzento e indecifrável cravado em mim.

Por um instante, ninguém mais existiu.

Os olhos dele não revelavam surpresa - ele nunca era surpreendido -, mas havia algo ali... um brilho discreto, um segundo de silêncio interno, como se ele houvesse esquecido de respirar.

Eu caminhei até ele com passos firmes, segurando o buquê com força, tentando ignorar a tensão nas minhas costas e o peso emocional do que esse momento representava.

Quando parei ao lado dele, seu olhar percorreu meu rosto por inteiro, depois baixou lentamente até o vestido. Não disse nada - não era seu estilo -, mas seus olhos disseram tudo.

Desejo. Admiração. Respeito.

Talvez até... orgulho.

O celebrante começou as palavras de abertura da cerimônia. Eu mal escutava. O som ao redor parecia abafado. Meu coração, esse sim, batia como um tambor descompassado.

Quando chegou o momento dos votos, Leonhart me surpreendeu. Ele tirou um pequeno papel do bolso do paletó.

- Não sou um homem de muitas palavras, Elena. E você sabe disso. Mas quero prometer algumas coisas, porque sei que você não veio até aqui em busca de uma prisão, mas de liberdade. - Ele respirou fundo. - Prometo não mentir para você. Prometo estar do seu lado, mesmo quando o mundo inteiro virar as costas. E prometo não ser o seu passado... mas estar presente no seu futuro.

Minhas mãos tremiam. O salão estava em completo silêncio. E eu, que tinha jurado não me emocionar, senti meus olhos marejarem.

- Eu... - comecei, respirando fundo -, nunca imaginei que terminaria em um casamento arranjado. Nunca pensei que usaria esse vestido por qualquer outra razão que não fosse amor. Mas hoje... estou aqui. Por mim. Pela mulher que sobreviveu. Pela mulher que cansou de correr.

Olhei nos olhos dele.

- E se for para caminhar ao lado de alguém... que seja ao lado de quem não me diminui. Que seja ao lado de alguém como você, Leonhart Moreau.

A cerimônia continuou, mas tudo parecia embaçado. Até o momento do "pode beijar a noiva".

Leonhart se inclinou. Não houve pressa, nem hesitação. Foi um beijo firme, preciso, respeitoso e cheio de promessas silenciosas. Ele não me beijou como se estivesse reivindicando algo. Me beijou como quem entende que do outro lado também existe força.

A cerimônia terminou entre aplausos. Diego estava ao fundo, braços cruzados, vigiando tudo, mas aliviado. Giuliana e Marco aplaudiram discretamente, visivelmente tensos, mas satisfeitos.

E eu? Eu estava casada.

Mas, acima de tudo, eu estava livre.

---

Leonhart Moreau

Estava no altar, como sempre: ereto, imponente, sereno por fora, ainda que algo em mim estivesse inquieto. A sala estava lotada. Ricos. Políticos. A imprensa contida ao fundo. Mas foi ao notar Diego, irmão de Elena, que minha atenção se fixou por alguns segundos.

Ele estava ali, parado com o maxilar travado, os olhos duros e o corpo inteiro em alerta. Não havia nenhum disfarce em sua postura - ele estava ali por ela, pronto para qualquer coisa. Um cão de guarda fiel. E, mesmo sendo um incômodo visual no meio de tanto luxo, precisei respeitar. Homens que defendem mulheres de forma genuína são uma raridade.

Então os portões se abriram.

E todo o som do salão pareceu silenciar.

Lá estava Elena.

Vestida de branco.

Radiante.

Assustadoramente linda.

O vestido realçava suas curvas com uma delicadeza etérea. Cada flor bordada parecia ter sido feita para ela, como se o tecido tivesse nascido em seu corpo. A luz natural que entrava pelos vitrais da mansão realçava o brilho do tule e dos cristais delicadamente bordados. Seu rosto... estava calmo, mas seus olhos... seus olhos gritavam liberdade contida.

E o mais estranho foi meu próprio corpo. Meu peito apertou. O ar pareceu rarefeito. E o coração... bateu descompassado.

- Merda... - sussurrei para mim mesmo.

Isso não estava nos planos.

Não era para ela mexer comigo. Não daquela forma. Não ali.

Ela caminhava como se tivesse sido moldada para aquele momento, e a cada passo que dava em minha direção, eu sentia como se alguma parte em mim fosse se despedaçando... ou renascendo. Eu ainda não sabia qual das duas.

Quando Elena parou ao meu lado, o perfume dela invadiu meu espaço, e foi impossível não olhar para cada detalhe: a maquiagem leve que realçava seus traços firmes, o brilho sutil nos olhos, a forma como segurava o buquê - firme, decidida, mas com um quê de vulnerabilidade. Era uma mulher inteira. E também cheia de rachaduras. E eu respeitava isso.

Os votos vieram, e, sinceramente, não fui eu quem escreveu os meus. Eu os senti. Fui honesto. Prometi lealdade, presença e verdade. Prometi não ser uma prisão, mas um lar. Ela me olhou com surpresa. Talvez não esperasse isso de mim.

E ela...

Ela me atingiu com as palavras dela como um soco no meio do peito. Não houve floreios. Houve alma. Elena não quer conto de fadas. Ela quer dignidade. E, por Deus, eu jurei ali em silêncio que nunca tiraria isso dela.

O beijo? Foi mais do que um rito.

Foi um pacto silencioso.

Um reconhecimento entre dois mundos partidos.

A cerimônia terminou. Sorrisos forçados. Cumprimentos formais. Taças erguidas. Mas meus olhos... seguiam ela.

Quando descemos os degraus do altar, me aproximei de seu ouvido e disse em voz baixa, apenas para ela:

- Você é muito mais do que imaginei, Elena.

Ela virou o rosto de leve e me encarou.

- E você é menos insuportável do que achei, Leonhart.

Quase sorri. Quase.

Seguimos para a pequena recepção. Todos nos cercavam como peças de xadrez. Mas mesmo cercado por aliados e inimigos, eu só conseguia notar duas presenças que poderiam mudar tudo: Diego, e Elena.

Em algum momento, me afastei discretamente e encontrei Diego no terraço dos fundos, observando a festa de longe, com a mesma expressão carregada.

- Diego. - chamei, mantendo o tom neutro.

Ele se virou devagar.

- Você sabe que isso tudo é loucura, não sabe? - disse ele. - Ela não merece isso. Um casamento político. Um nome. Uma nova prisão.

Aproximei-me um passo, sem me intimidar.

- Concordo. Ela não merece uma prisão. Mas eu também não sou o homem que vai algemá-la. E, sinceramente, se algum dia eu me tornar esse homem... - pausei, sério - você tem minha permissão para me derrubar.

Diego arqueou uma sobrancelha.

- Está dizendo isso para parecer confiável?

- Estou dizendo isso porque confio que você a protegeria com a vida. E porque, Diego... agora, eu também protegeria.

Por um breve instante, ele me analisou em silêncio. O ódio inicial parecia dar lugar a uma dúvida inquieta. E então, apenas assentiu, como quem pensa "veremos".

Voltei para o salão.

Elena conversava com uma senhora - uma das amigas da família Moreau - com aquele sorriso diplomático que só quem cresceu em meio a ambientes hostis sabe usar. Quando nossos olhos se encontraram, ela não desviou.

Ela sabia que eu a observava.

E eu sabia que ela sabia.

Este casamento, para todos ali, era um jogo de interesses.

Mas para mim... estava se tornando algo mais.

E isso era o mais perigoso de tudo.

{...}

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