LAURA
O som do motor rugia pela rodovia enquanto a paisagem do norte da Itália desaparecia pela janela. Laura mantinha os olhos fixos na estrada, os dedos apertando o encosto de couro do banco dianteiro. À sua esquerda, Cristina cochilava, completamente alheia à tempestade que fervia dentro da melhor amiga.
O envelope com as iniciais “A.B.” ainda repousava sobre o colo de Laura. Ela já lera aquela carta dez vezes, e cada leitura apenas aumentava a sensação de que sua vida inteira fora construída sobre uma mentira.
“Querida Laura,
O sangue que corre em suas veias não é limpo. Ele é dividido.
Um lado vem da sua mãe.
O outro… vem de Giuliano Santorini.”
Palavras que queimavam como ácido.
Ela se lembrava de sua mãe dizendo, certa vez, que a família Bianchi era "complicada demais para entender em poucas gerações". Agora, talvez, compreendesse: não se tratava apenas de política ou de negócios de família. Tratava-se de alianças escondidas. Pactos de sangue selados no escuro. Traições que nun