O cursor piscava há longos minutos.
A caneca de chá esfriava ao lado do teclado e a playlist instrumental tocava baixo, como se temesse atrapalhar o silêncio cheio de expectativa do quarto que Matheus preparou pra mim. A escrivaninha nova, as estantes ainda cheirando a madeira e verniz suave, a poltrona azul-marinho ao lado da janela.
A minha pequena torre de paz.
Respirei fundo e deixei os dedos pousarem sobre as teclas.
Comecei devagar. Uma frase de cada vez. Sem pressa, sem me cobrar.
“Essa história começa no escuro.
Mas não termina lá.”
Parei. Li em voz alta.
Fechei os olhos.
Sim, isso parecia certo.
Comecei a digitar mais rápido, como se o mundo ali dentro tivesse despertado de repente. Palavras nasciam. Algumas frágeis, outras certeiras. Eu falava de uma mulher que se perdeu de si e aprendeu a se encontrar nos cacos, com ajuda, com amor, com raiva, com silêncio.
Eu falava de mim. E também de tantas outras.
A porta de casa se abriu com mais força do que o comum.
Um segundo