Capítulo Sessenta e Dois

Os meses passaram como folhas ao vento. Às vezes rápidos demais, às vezes arrastados, pesados como o peso do próprio corpo que agora me lembrava, a cada movimento, que havia outra vida crescendo ali.

Eu estava na escrivaninha, revisando um trecho do que esperava que fosse o penúltimo capítulo do meu livro. As costas doíam, e eu usava uma daquelas almofadas ortopédicas que Matheus comprou escondido, fingindo que era um “presente estiloso”. Ele achava que eu não percebia o quanto se preocupava — mas eu sabia. E era isso que me mantinha firme. A forma como ele me apoiava em tudo. Em absolutamente tudo.

— “Ela caminhou até a borda do lago, onde costumava jogar as cartas antigas...” — li em voz alta, rabiscando algo na margem da página. — Hum... não sei se gosto disso.

— Do quê? — Matheus apareceu na porta com duas xícaras. Chá pra mim, café pra ele. Aquelas pequenas rotinas que nos sustentavam.

— Dela voltar ao lago. Fico em dúvida se ela já não superou esse lugar.

Ele colocou a xícara ao
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