A estrada era quase deserta.
Matheus dirigia com uma das mãos no volante e a outra entrelaçada à minha, repousando sobre meu colo. Às vezes ele cantava baixinho, outras apenas ficava em silêncio, os olhos perdidos na linha do horizonte. Não era o silêncio tenso de antes. Era como se, pela primeira vez em semanas, ele tivesse espaço para respirar.
O rádio tocava uma música antiga, com arranjos suaves e voz rouca. Uma daquelas que a gente não sabe de onde conhece, mas parece feita pra aquele momento.
Quando finalmente paramos, o sol já começava a cair. Encontramos uma pousada simples perto de uma praia deserta, com chalés de madeira e cheiro de maresia. O quarto era pequeno, mas confortável, com uma varanda voltada para o mar. Assim que entramos, largamos as mochilas no chão e deixamos as janelas abertas, deixando o vento invadir tudo.
Eu me deitei de lado na cama e fiquei observando Matheus tirar os sapatos, o olhar perdido nos próprios movimentos.
— Tá tudo bem? — perguntei baixinho.