Dia seguinte, dentro do refeitório, o cozinheiro experiente — sempre um homem de poucas palavras e muitos gestos — executava sua rotina com a precisão de quem conhece cada centímetro daquele espaço.

O sol ainda não havia tocado o chão com força, mas a luz suave da manhã já entrava pelas janelas altas, desenhando retângulos dourados sobre o piso frio. O cheiro de café recém-passado misturava-se ao aroma discreto de sabão neutro, enquanto o som da água correndo na pia criava uma trilha sonora tranquila para o início do dia.

Com movimentos atentos e quase coreografados, ele lavava a lousa pendurada na parede — não uma lousa comum, mas uma onde anotava receitas, lembretes e até frases soltas que surgiam em sua mente durante o preparo das refeições. Cada traço de giz era apagado com cuidado, como se respeitasse a memória do que ali fora escrito.

Ao se voltar para a bancada, começou a lavar as xícaras empilhadas com delicadeza. Era como se cada peça tivesse uma história, uma mão diferente