Pablo

Era de manhã. Toda vez era a mesma coisa: eu tinha que organizar tudo — carregamento de drogas, cobranças na comunidade e o resto da correria.

— Tá fazendo o quê? — meu sub, Tales, perguntou.

— Cara, tu é meu sub, mas é chato pra caralho. Cê é minha mulher agora? — resmunguei.

— Pô, mano… não tá me tirando — ele disse, sentando ao meu lado.

Tava vendo uns vídeos até cair numa live de uma mina que eu acompanhava há mó cota nas redes sociais.

Caralho, que mulher gostosa. Tava vendendo lingerie, e quem comprasse um valor X dos produtos ganhava um dia com ela.

Eu queria aquela mina pra mim.

Peguei todas as informações, comprei quase a loja inteira.

Mandei mensagem.

E a filha da puta me destratou. Disse que ia chamar “os vermes” pra mim.

Me deu uma neurose do caralho.

Quem essa mina pensa que é? Só porque é famosinha?

Eu vou mostrar pra ela quem é Pablo, o Dono do Morro.

— Aí, Grilo! Chega mais. — chamei.

— Fala, chefinho — ele respondeu.

— Quero um trampo mil grau — falei, tragando o fino.

— Manda a fita — ele disse.

Expliquei tudo. Tava comendo uma nega quando ele avisou que tava chegando com meu “presente”.

Saí da salinha e fui esperar.

Ela chegou cheia de marra.

Confesso que perdi a linha com ela. Até bati.

Saí de lá bolado.

— Qual foi, irmão? — Tales perguntou.

— Tô bolado. Vigiem a casa. Ninguém deixa essa mina sair daí, em hipótese alguma.

Ele só confirmou com a cabeça.

Mais tarde, vi no celular o vídeo do desaparecimento dela. Soltei um sorriso de canto.

— Cara, tão dizendo que a mina sumiu! — Tales falou.

Eu comecei a rir.

— Ih, mano… tu não tá envolvido nisso não, né? — ele perguntou.

Eu gargalhei.

— Deixa baixo. Ninguém vai saber da mina, não — falei olhando pra casa onde ela tava.

Era noite quando fui levar comida.

Ela tava encolhida no canto.

— Levanta — ordenei.

Ela não reagiu.

— Eu mandei levantar! — gritei.

Ela fechou os olhos, se levantou devagar. Tava suja, fraca.

— Come — entreguei a marmita.

A desgraçada jogou tudo na minha cara.

Tá pedindo.

Tô tendo mó paciência pra não ser um merda e comer ela à força.

Agarrei o cabelo dela.

— Agora tu vai comer a comida do chão.

— Nunca — ela disse, cara a cara comigo.

Ri.

Puxei mais forte e a ajoelhei.

— Vai comer sim.

Meus olhos estavam negros. Quem essa mina pensa que é?

Apontei a arma na cabeça dela. A mão dela começou a tremer.

— Por favor… — ela chorou.

— Come tudo — rosnei.

Ela chorava sem parar. Perdi a paciência. Peguei a comida do chão e esfreguei na boca dela. Ela soluçava, tentando desviar.

Puxei o cabelo pra trás.

— Nunca mais, na porra da tua vida, faz isso. Porque, se fizer… eu vou te cortar em pedacinhos e mandar pra tua família.

Ela desabou em choro.

Sentei na cadeira, fumando, só pensando:

Vai ser difícil domar essa mulher.

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Melinda

Ele me fez comer toda a comida do chão. Eu tava completamente suja, machucada, descabelada.

Quando ele saiu, eu só pedi a Deus uma solução.

A noite tava fria e eu tremia.

Será que estavam me procurando?

A porta abriu.

— Oi… — falei, esperançosa.

— Oi. Escutei uns choros aqui — um homem respondeu. Parecia morador.

— Me ajuda. Eu sou influencer… fui sequestrada por um dono de morro que eu nem sei quem é.

— Moça! Claro que vou te ajudar — ele disse, me levantando.

Mas quando chegamos na porta…

Ele tava lá.

De braços cruzados.

A cara do capeta.

— Pra onde pensa que vai levar minha mina, Jão? — ele falou, empurrando o homem. Eu caí no chão.

— Eu não sou sua mina! — gritei.

— Cala a boca! — ele estalou um tapa que me derrubou.

Depois apontou a arma pro cara.

— Mano, eu não sabia! — o coitado implorou.

Em segundos, ele atirou na cabeça do homem.

O sangue respingou no chão.

Tapei os ouvidos.

Ele me agarrou com força.

— Tu não aprendeu, né, gostosa? Vou te ensinar a dançar na minha música — ele sussurrou cheirando meu pescoço.

Senti nojo.

Repulsa.

Terror.

Ele me jogou no chão e bateu tanto… que eu apaguei ali mesmo.