Capítulo 3

— Por favor! Eu dou o dinheiro que for pra você me liberar — ela implorou, juntando as mãos como se orasse.

— Pensasse nisso antes de fazer merda. Já falei que não quero o caralho do teu dinheiro, eu tenho mais que tu — falei, jogando ela na cama. — Seja submissa a mim e nada de ruim vai te acontecer, Melinda.

— O que você quer de mim?! — ela gritou, ainda tentando me empurrar.

— Que seja minha — respondi.

— Nunca! Isso nunca! — ela rebateu.

— É isso que vamos ver — falei, trancando a porta por fora.

Tales chegou logo depois, tenso.

— Isso vai dar merda, cara. Os vermes tão procurando a mina em tudo quanto é canto. Já tão cogitando invadir pra varrer a favela.

— Que venham. O fuzil canta bonitinho neles — falei, fazendo gesto de arma.

— Pablo… é melhor liberar a mina — ele insistiu.

— Liberar? Só se for liberar minha pica nela — respondi, acendendo um cigarro.

— Depois não diz que eu não avisei — murmurou, tocando meu ombro.

— Ela não vai sair daqui! — afirmei, firme.

— Que obsessão louca é essa, Pablo? — ele questionou.

— Deixa quieto. Se tivesse cooperado, nada disso teria acontecido — soltei a fumaça devagar.

— Só espero que isso não custe o morro, cara — ele disse, saindo.

Fiquei olhando o alto do morro, refletindo.

Quando dei por mim, eram quatro da manhã. Os fogos começaram a pipocar.

Os vermes tavam subindo.

Peguei o fuzil e saí correndo.

Abri a porta do barraco onde ela estava. Ela se assustou, encolhida.

— Levanta! — ordenei.

Ela levantou chorando.

— Para de chorar, mulher. Anda logo! — empurrei levemente, e ela foi na frente.

— Pra onde vamos? — perguntou, ofegante.

Peguei o radinho.

— Tales, passa a visão.

— Os cana tão subindo.

— É fixa. Vou pelo matagal com a mina.

Ela ouviu e soluçou. Segurei o braço dela, Glock na outra mão. Ela chorava sem parar até chegarmos no matagal.

Mandei ela entrar, mas, de repente, avistou um policial lá longe e começou a gritar:

— Aqui! ME AJUDA! — berrava, correndo.

Tapei a boca dela.

— Cala a porra da boca! — rosnei, mas ela mordeu meu dedo e disparou pra longe.

O policial já vinha correndo pra cima dela, mas Tales atirou antes.

Ela ficou paralisada no meio do fogo cruzado, sem saber pra onde ir.

Fuzilei ela com os olhos enquanto Tales segurava o braço dela e trazia de volta.

— Como tá o movimento? — perguntei.

— Vasculharam umas casas, mas já meteram o pé — ele disse.

— Vou pra minha goma — falei, puxando ela de volta pelo braço.

— Por favor, não me deixa com esse louco! — ela implorou, agarrando Tales de desespero.

Ele ficou paralisado, sem saber o que fazer. Ela se enfiou nos braços dele chorando.

Puxei ela com força.

— Porra, gostosa… tu não aprende, né? — falei, arrastando-a comigo.

Chegamos na minha goma.

— Quero o dobro de vapor aqui na minha casa. — ordenei.

— É fixa — Tales respondeu, saindo pra avisar o bonde.

Entrei e joguei ela na sala. Ela se encolheu.

— Tu é difícil de entender as paradas, hein? — segurei o queixo dela.

— Eu posso morrer, mas eu vou sair daqui — ela respondeu, com os olhos cheios de ódio e medo.

Segurei o braço dela e levei pros fundos.

— Tira a porra da roupa — ordenei.

Os olhos dela se arregalaram.

— Não… por favor… não faz isso… — chorou.

— Fazer o quê? Só se tu pedir. Não tenho paciência pra esperar — falei, puxando uma cadeira e sentando, arma na mão.

— Tira a roupa — repeti, firme.

Ela tremia.

— Vou contar até três. Um!

Ela se assustou e começou a tirar o vestido, revelando as tatuagens. Tirou devagar, ficando só de lingerie.

— Essa é da tua linha? — perguntei.

Ela confirmou com a cabeça, soluçando.

— Eu mandei tirar tudo.

Ela fechou os olhos e tirou o sutiã. Depois, a calcinha.

Tive que respirar fundo pra não perder o controle.

— Vira pra mim — ordenei.

Ela virou, cobrindo os seios e a intimidade.

— Tira a mão — falei, apontando a arma. Ela obedeceu.

Liguei a mangueira e joguei água fria nela. Ela tremia, os lábios roxos.

Desliguei a mangueira e a levei nua pra dentro de casa, colocando-a no quarto.

— Fica aí e pensa no que tu fez.

— Vai me deixar aqui sem nada?! — ela perguntou, chorando, encolhida na cama fria.

— Porra… meu dedo ainda tá doendo — falei, debochado. Fechei a porta enquanto ela batia do outro lado.

Essa mina me dava mais trabalho do que qualquer uma.

Diferente das do asfalto, que basta um “oi” pra abrir as pernas…

Eu encostei as costas na porta depois de trancar ela. O barulho das batidas dela do outro lado ecoava na minha cabeça… e, porra, eu sentia aquilo no fundo do peito.

Nunca senti nada parecido.

Não era tesão.

Não era vontade de comer.

Era fome.

Uma fome que vinha desde moleque, desde a primeira vez que alguém tirou algo de mim.

E agora, pela primeira vez, eu tinha algo que ninguém podia tocar.

Melinda.

Eu odiava a forma como ela chorava… mas odiava mais ainda perceber que aquele choro mexia comigo.

Me dava vontade de quebrar tudo, de gritar, de segurar ela até ela entender que não existe vida fora de mim.

Eu sabia que tava passando do limite, mas quanto mais ela resistia, mais eu queria quebrar essa resistência. Era isso que me corroía. Ela era diferente.

As outras se rendiam rápido demais.

Ela não.

Ela queimava o meu ego, rasgava meu controle, me fazia perder a linha.

E essa porra me deixava louco.

Encostei a testa na porta, ouvindo a respiração soluçada dela.

Cada soluço parecia chamar meu nome, mesmo que fosse de medo.

Medo também é forma de pertencimento.

E ela pertencia a mim. Mesmo que não aceitasse ainda.

Passei a mão no rosto e senti o latejar do dedo que ela mordeu.

Aquela mordida…

Caralho.

Aquilo acendeu algo dentro de mim.

Não ódio — vontade.

Uma vontade sombria, violenta, possessiva.

Ninguém nunca tinha me desafiado desse jeito.

E ninguém jamais desafia o Dono do Morro e vive pra contar história.

Mas ela…

Ela fez.

Ela me enfrentou.

Me xingou.

Me bateu.

Tentou fugir.

Preferiu pedir ajuda pra um desconhecido do que confiar em mim.

E cada uma dessas coisas me fazia querer ela ainda mais.

Não era só sobre manter ela presa.

Era sobre domar.

Sobre fazer ela olhar pra mim sem medo… mas sabendo quem manda.

Sobre ver ela quebrar, e depois juntar os pedaços com minhas próprias mãos.

Sobre ela entender que, mesmo que o mundo inteiro viesse atrás dela, só eu podia proteger.

Só eu podia possuir.

Tales acha que isso vai custar o morro.

Talvez custe mesmo.

Mas pela primeira vez na minha vida, eu descobri algo que vale mais do que território, mais do que dinheiro, mais do que poder.

Vale mais porque me descontrola.

E tudo que me descontrola… eu faço questão de manter por perto.

Melinda pode espernear, gritar, chorar…

Mas já era.

Eu respirei fundo, passando a mão nos cabelos.

Ela é minha obsessão.

E obsseção não se larga.

Se prende, se guarda.

Se cala.

E se alguém tentar tirar de mim…

O morro inteiro vai virar um cemitério.

Sigue leyendo este libro gratis
Escanea el código para descargar la APP
Explora y lee buenas novelas sin costo
Miles de novelas gratis en BueNovela. ¡Descarga y lee en cualquier momento!
Lee libros gratis en la app
Escanea el código para leer en la APP