Ela acordou sozinha.
O lençol ainda estava quente do lado esquerdo da cama, mas ele já não estava ali.
Nenhum som, nenhum bilhete. Nenhuma palavra.
Valentina ficou deitada por alguns minutos, os olhos fixos no teto, tentando organizar o que sentia. A noite passada queimava na memória como um segredo, não apenas pelo prazer, mas pela entrega.
Pelo modo como ele a tocou como se estivesse se despedindo.
Quando saiu do quarto e foi até a cozinha, ele estava ali.
Vestido, pronto, café feito.
— Você dorme? — ela tentou brincar, mas a voz saiu baixa.
— Às vezes.
Ele nem olhou para ela.
A ferida começou a abrir.
— Sobre ontem… — começou.
— Não precisa dizer nada — ele interrompeu, calmo demais. — Não muda nada.
Ela se encostou na bancada, sentindo as palavras cortarem como cacos de vidro.
— Muda pra mim.
Silêncio.
— Heitor — ela insistiu — por que você faz isso? Se aproxima, me beija, me toca, me invade… e depois se esconde de novo?
Ele largou a caneca na pia com mais força do que o necessár