Acordou com um buraco no estômago e a sensação de que o silêncio era denso demais.Olhou o relógio: 3h14.O quarto estava escuro, exceto por um fio de luz que vazava por debaixo da porta. A chuva ainda tamborilava no telhado, agora mais suave, como se o mundo estivesse finalmente tentando dormir.Ela se levantou devagar, enrolando-se num moletom surrado. Caminhou até a cozinha com passos lentos, os pés descalços fazendo barulho leve no piso de madeira.A geladeira era velha, mas funcionando. Dentro, encontrou queijo artesanal, presunto defumado, um vidro de picles, pão caseiro.Montou um sanduíche com movimentos automáticos, aproveitando o silêncio para respirar — pela primeira vez em dias.Quando se virou para pegar um copo, levou um susto.Heitor estava encostado na porta da cozinha, braços cruzados, expressão neutra. Os olhos dele varreram a cena em segundos — o sanduíche, a faca em cima da bancada, os pés descalços dela no chão frio.— Você se move igual a um gato — ela disse, irr
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