Havia algo libertador no fundo do poço. Quando se cai o suficiente, o medo muda de forma, deixa de ser paralisia e vira movimento.
Valentina observava a própria imagem refletida na janela do apartamento de Breno.
Cabelos presos num coque malfeito, olheiras fundas, a pele mais pálida que o habitual. Mas os olhos… estavam diferentes.
Mais duros.
Mais vivos.
— Vai dar certo — disse ela a si mesma. Pela décima vez naquela manhã.
Breno ainda estava dormindo. Ela passara a noite em claro, rabiscando ideias sobre como se reerguer, como reconstruir o Caligrafia, como limpar o próprio nome — e talvez, um dia, recomeçar longe de tudo isso. Queria provar ao pai que não era co-dependente dele, que podia se livrar de sua influência.
Mas por mais que tentasse se concentrar em si mesma, o nome dele voltava, como um eco persistente:
Heitor.
Onde ele estava?
Ele desaparecera como se nunca tivesse existido. Nenhuma mensagem. Nenhuma tentativa de contato. Nada. Parte dela agradecia, a outra… só queria q