Heitor estava diferente de novo. Mas não era como antes, não era apenas silêncio ou distância. Agora havia algo engessado, como se cada palavra que ele dissesse estivesse sendo medida, como se cada gesto fosse parte de um script invisível.

Valentina percebeu isso já de manhã, quando chegou ao restaurante e ele a esperava na porta, de braços cruzados.

— Algum problema? — ela perguntou.

— Nenhum — respondeu, seco. — Só fazendo meu trabalho.

Ela arqueou uma sobrancelha, mas não disse nada.

Durante o dia, ele mal falou com ela, não houve comentários sarcásticos, nem provocações veladas. Apenas olhares rápidos, fugidios e vigilância constante.

Ele verificou os fundos do restaurante, ligou para o serviço de entrega duas vezes, e ficou no estacionamento durante a maior parte da tarde. Quando voltou, ficou no canto da cozinha olhando tudo como se esperasse algo explodir a qualquer momento.

E mesmo com essa tensão, havia algo na rigidez de seus ombros que doía nela. Ele estava se afastando, de