18

Valentina esperou que Heitor acordasse antes de fingir casualidade. Ainda estava escuro do lado de fora, e o restaurante em silêncio. Ele abriu os olhos devagar, como se já soubesse que ela o observava.

— Dormimos aqui — ele murmurou, ajeitando a postura.

Ela assentiu, braços cruzados.

— Acontece. Estávamos cansados.

Heitor pareceu desconcertado por um segundo, como se esperasse outro tipo de reação. Mas ela mantinha o rosto neutro.

Não conseguia olhar para ele da mesma forma. Não depois da ligação de Nêmesis. Não depois da tatuagem. Não depois de ouvir a palavra assassinato.

Ela tentou o confronto. Naquela manhã, preparando o café do dia, largou a primeira pergunta:

— Você já foi pra Rússia?

Ele a olhou com certa surpresa.

— Rússia?

— É. Tive um sonho com neve. Me fez lembrar disso.

— Nunca. Odeio frio.

Resposta rápida. Ensaiada? Talvez. Ela sentiu a mente calcular, fria. Mas suas emoções eram outra história. Quis perguntar o nome real. Quis forçá-lo a mostrar a tatuagem de novo.

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