Valentina estava diferente.
Era sutil — o tipo de coisa que só alguém como ele perceberia. A forma como ela o evitava com o olhar. As respostas mais curtas. O sorriso educado, falso, o mesmo que ela usava em eventos formais.
Alguma coisa tinha mudado.
Heitor se moveu pelo apartamento em silêncio, como sempre fazia. Era uma sombra. Um vulto na borda do mundo dela. Mas mesmo sem dizer uma palavra, observava tudo.
Na manhã anterior, ela recebera uma mensagem. Ele não vira o conteúdo — jamais invadiria a privacidade dela desse jeito, mas sentira o peso do ar mudar, como se algo tivesse sido acionado por dentro dela.
Ele se lembrava bem do rosto dela quando voltou da cozinha. Pálida. Confusa. E quando ela viu a tatuagem em seu antebraço — que ele se esquecera de esconder — não disfarçou o susto.
Talvez já fosse tarde demais.
A rua estava abafada quando ele saiu para sua ronda. O restaurante continuava fechado, mas os arredores não paravam nunca. Heitor conhecia os rostos, os carros, os pad