O som do relógio na parede parecia mais alto do que deveria, marcando cada segundo como um estalo seco no silêncio que se estendia entre eles.
Enrico não se mexia. Continuava ali, de pé no meio da sala, como uma estátua prestes a rachar. O olhar fixo em um ponto do chão, os punhos cerrados, o peito subindo e descendo devagar demais — como se cada respiração fosse um esforço calculado para não explodir.
Cecília sentiu o ar ficar mais denso, pesado, e a vontade de recuar se misturou à necessidade de não deixá-lo sozinho com aquela fúria silenciosa. Sabia que bastava um movimento errado, uma palavra fora do lugar, para ele desmoronar.
— Enrico… — chamou, a voz baixa, vacilante.
Ele ergueu os olhos, e o que ela viu neles a fez prender o ar. Não era apenas raiva. Era algo mais profundo, sombrio — um tipo de silêncio que gritava por dentro.
— Ele fez isso? — A voz de Enrico saiu baixa, quase perigosa.
A frase não veio como pergunta, mas como sentença.
Cecília abaixou os olhos, sem responder