O ventilador fazia um barulho constante, como um zumbido cansado que preenchia o pequeno espaço da kitnet.
Cecília estava sentada na beirada da cama, as mãos sobre o ventre ainda discreto, o olhar perdido na parede descascada à frente.
Quase um mês havia se passado desde o dia em que o teste deu positivo — quase um mês em que ela aprendeu, na marra, a conviver com o medo.
No começo, tentou negar. Depois, tentou fingir força.
Agora, apenas respirava. Um dia de cada vez.
O trabalho de limpeza continuava o mesmo — pesado, desgastante e mal pago. Renato ainda era o encarregado, e cada turno ao lado dele era uma tortura silenciosa.
Ele nunca ultrapassava as insinuações, mas o olhar, o tom, o sorriso — tudo nele fazia o corpo dela se enrijecer.
E, por mais que quisesse ir embora, Cecília não podia. Aquele era o único dinheiro entrando.
As tonturas começaram há algumas semanas. No início, achou que fosse fraqueza, talvez fome.
Mas com o passar dos dias, o enjoo e o cansaço se tornaram mais f