A luz da tarde entrava preguiçosa pelas frestas da cortina mal fechada, tingindo o apartamento com um tom dourado que suavizava a bagunça espalhada pelo chão e pela pequena bancada. Garrafas de água vazias, roupas largadas às pressas sobre uma cadeira, uma pilha de papéis amassados em cima da mesa: tudo denunciava que aquele não era um lar planejado, mas um refúgio improvisado.
Eu me espreguicei devagar, sentindo os músculos reclamarem do cansaço. A cabeça ainda latejava com a falta de sono acumulada, mas havia um certo alívio em perceber que, pela primeira vez em dias, eu havia dormido sem o barulho constante das máquinas hospitalares. Virei o rosto e encontrei Dante. Ele ainda estava deitado ao meu lado, a respiração pesada, os cílios longos projetando pequenas sombras na pele pálida. O braço dele estava apoiado sobre o estômago, a camisa levemente amassada, e pela expressão serena parecia carregar o peso de batalhas silenciosas que finalmente lhe der