Narrado por Lorena Mello
O jantar foi silencioso.
De um jeito estranho, íntimo.
Eu e Dante comemos devagar, como se não quiséssemos encarar a tensão invisível que vibrava entre nós.
Quando terminamos, ele se recostou na cama, os olhos fechados, o braço jogado por cima do rosto.
Peguei meu notebook.
Conectei na plataforma da clínica.
O plantão noturno estava apenas começando.
Paciente após paciente.
Dor de cabeça, insônia, ansiedade.
Casos que exigiam atenção, cuidado, mas que já se tornavam rotina nas madrugadas de trabalho.
Dante adormeceu.
Respiração pesada ao meu lado.
Continuei.
Firme.
Presente.
Quase cinco da manhã, quando pensei em encerrar, o sistema apitou:
“Novo atendimento — Sr. Azevedo.”
Suspirei.
Aceitei a chamada.
A tela revelou um homem de uns quarenta e poucos anos.
Cabelos escuros, levemente grisalhos nas têmporas.
Camiseta simples.
Olhos que carregavam mais do que a madrugada.
— Boa noite, doutora Lorena. — cumprimentou, educado.
— Boa noite,