(Narrado por Dante Ferraz)
Tudo estava envolto em escuridão.
Essa foi a última imagem que consegui gravar na memória.
O céu cinzento se desvanecendo pela janela do avião.
Um som agudo e seco, como se algo tivesse se quebrado.
O aroma intenso de combustível permeando o ambiente.
Depois disso… apenas a batida.
O impacto.
Meu corpo sendo atirado ao vazio.
E, então, o silêncio se instalou.
Não um silêncio qualquer.
Era um silêncio denso, pesado, em que pairava um odor familiar de hospital.
Um silêncio que trazia consigo máquinas apitando a distância, vozes sussurrando nomes alheios e passos apressados ecoando.
Às vezes, eu ouvia meu próprio nome.
Outras, o ar tentava entrar nos meus pulmões, como uma luta silenciosa.
Foi nesse cenário que o tempo deixou de fazer sentido.
Dias, meses, talvez até anos passaram, mas tudo se resumia à mesma sensação de limbo.
A escuridão se transformou em rotina.
E meu corpo tornou-se uma prisão.
Eu só conseguia me fixar em uma imagem: