O dia amanheceu com gosto de metal. Eduardo chegou cedo ao fórum, antes do barulho dos corredores, e abriu as janelas do gabinete para deixar entrar o ar frio. Havia uma pilha de minutas à esquerda, outra de despachos à direita e, no centro, a decisão que o país inteiro dentro dele parecia contestar: transformar uma ré em testemunha. Não por benevolência — por forma. E, ainda assim, as mensagens nas entrelinhas eram sempre as mesmas: “Você mexeu na ordem do jogo.”
Letícia entrou com duas xícaras e aquela economia de palavras que salva dias ruins.
— Promotores às dez. — Ela pousou o café. — E um pedido de audiência “sem pauta” do conselheiro Vaz, para agora.
Eduardo assentiu, bebendo um gole curto. O conselheiro não vinha por cortesia. Veio para medir o terreno antes da tempestade.
Vaz entrou meio sorriso, terno de risca de giz, a mão sempre pronta para o ombro alheio.
— Doutor Eduardo, que tempo difícil, não? — Sem esperar resposta, acomodou-se. — A cidade murmura. E quando a cidade m