A manhã tinha a claridade de lâmina, e Vivian percebeu que dormira pouco mais de três horas. O corpo funcionava, mas a mente se movia com a cautela de quem pisa sobre vidro. Tomou um banho rápido, prendeu o cabelo em coque baixo — gesto de Vivian —, e só então deixou que a maquiagem de Scarlett tomasse lugar. A cada camada, sentia-se menos vulnerável, mais blindada, porém mais distante de si.
Antes do meio-dia, o gerente a chamou para uma “reunião de negócios”. Hotel discreto, lobby com cheiro de flor artificial, tapete grosso abafando passos. Scarlett chegou acompanhada de Camila, mas foi convidada a subir sozinha. No 11º andar, a porta já estava entreaberta.
— Entre — convidou uma voz de homem, neutra, controlada.
Dois sujeitos aguardavam: ternos escuros, relógios sem brilho, pupilas que mediam o ambiente como régua. Não havia apresentação. O mais baixo indicou a poltrona, e Scarlett sentou com a coluna ereta, mãos sobre os joelhos, postura de quem não pede — pactua.
— Soubemos que