O amanhecer veio lavado, e por um breve instante Curitiba pareceu uma cidade onde nada de ruim alcançava ninguém. Scarlett — Vivian — acordou antes do toque do despertador. O celular mostrava a mensagem de Marlene enviada na madrugada: “A Mariana quer muito que você venha ao sarau hoje. Está ensaiando o poema. Está feliz.”
Feliz. A palavra abriu uma fresta de luz.
Ela tomou banho sem pressa, prendeu os cabelos ruivos num rabo simples e guardou a maquiagem numa nécessaire menor, de quem pretende ser invisível. No espelho, buscou o rosto de Vivian, não o de Scarlett. Jaleco imaginário, cheiro de antisséptico, mãos firmes. Respirou fundo.
— Vai mesmo? — Gaia apareceu à porta do quarto com uma caneca de café. Trazia olheiras de sentinela.
— Vou. É num espaço pequeno, da ONG — disse Vivian, calçando tênis —. Sem anúncio, sem plateia que nos conhece.
— Leva o casaco e o senso de perigo — retrucou Gaia, metade carinho, metade lei. — E manda notícias quando chegar.
Aurora surgiu com um el