O casarão amanheceu úmido, como se a noite tivesse lavado a poeira das paredes. A chuva fina batia no telhado com um ritmo paciente, e o cheiro de terra molhada entrava pelas frestas das janelas. Eduardo estava acordado desde antes do claro, sentado no peitoril, olhando o quintal ralo onde as folhas de eucalipto brilhavam. Um pardal atrevido pousou no fio e sacudiu as asas, indiferente à guerra que dormia ali dentro.
Aline roncava baixo no sofá, uma manta xadrez até o queixo e o joelho enfaixado para fora, como quem exibe um troféu. O corte era pequeno, mas o corpo inteiro reclamava. O rádio descansava desligado sobre a mesinha, um luxo que eles não se permitiam há dias. O silêncio tinha outra textura: não era espera, era descanso.
Eduardo levantou devagar, o ombro ainda puxando no curativo, e foi para a cozinha. Lavou a caneca duas vezes, sem motivo. O café subiu em ondas no coador de pano, espesso e perfumado, e por um instante ele se permitiu pensar na cozinha da mãe, na toalha de